Não tinha pretensão alguma de publicar uma edição esta semana. Criança doente, uma mãe escritora autônoma desalinhada com a vida, totalmente no modo sobrevivência. Fazer o que precisa ser feito, só. Mas a escrita tem seus mistérios e chega solicitando espaço nos momentos mais inusitados. Eu, que do seu lado não saio, aprendi a parar tudo e ouvir o que as palavras tem a me dizer.
Tenho escolhido leituras de forma muito intuitiva. Um livro meio que leva ao outro, não de forma indireta, percebo apenas após a leitura já ter avançado um tanto. Acho bonito demais perceber as ramificações da vida, que se perfazem nas maiores e menores sutilizas do dia a dia.
No momento, leio O mundo desdobrável de Carola Savedra. Livro escolhido após ler O manto da noite, também da autora. Leio invertido, o segundo surgiu após a escrita do primeiro. Eu, que li o surgimento de um, quis saber de onde vinha sua origem e assim faço o caminho inverso. Carola me emociona ao falar das inúmeras formas de se interpretar/se portar na vida. Sempre que alguém fala sobre subverter a vida escrita, lágrimas brotam em mim.
Nesse meio tempo, leio outras mulheres e, algo que vem sido dito de forma um tanto coletiva, me salta o peito, incomoda e apreende. “Estou pausando as assinaturas pagas por não conseguir entregar o prometido”. Entendo perfeitamente a preocupação desta mulheres e sinto com elas a angústia de não dar conta. Mas não consigo aceitar que, na tentativa da construção de novos espaços para a escrita, como este, estejamos mais uma vez sucumbindo a grande roda devoradora de almas e em especial, destruidora da arte.
Processos criativos não são lineares.
Processos criativos não são lineares.
Processos criativos não são lineares.
Repito, com a esperança de que as pausas, forçadas ou não, sejam normalizadas.
Repito, com a esperança de que nós, apoiadores da arte alheia, não a apoie esperando receber algo em troca da mesma forma que se recebe religiosamente um boleto no dia dez de cada mês.
A arte não é linear. Nada nesta vida é, para dizer bem a verdade. Somo forçados a acreditar que, se a gente fizer “tudo direitinho” a rotina vai ser mantida, as entregas cumpridas, os prazos, ufa, superados sem percalços. E a vida, essa coisa previsível e julgadora, nos recompensará com os retornos programados, de tudo aquilo que investimos e esperamos resposta, mesmo que por vezes nem prestemos atenção no que nos é ofertado.
Criar é plantio. Investir na arte de alguém é esperar a semente crescer. E isso precisa necessariamente de pausas no processo.
Tenha como objetivo a colheita. Apoie artistas esperando receber seu plantio, seus processos de amadurecimento, assim como as pausas que antecedem novas fases, para enfim, a colheita, que sempre chega se esperarmos o suficiente.
São tempos complexos, de muitas transições. Um período que impõe um olhar mais apurado para nossa presença aqui, neste planeta. Isso pode ser assustador, mas também um grande impulso de mudança.
Quebrar padrões. Criar novas formas de trabalho e o que se espera como resultado. Apoiar projetos que se constroem de forma não retilínea, que pausam, para respiros necessários. Tornar isso o novo normal. Querer isso pra si também, ao invés de cercear do outro a possibilidade.
Pequenas revoluções são sempre o começo de algo, que um dia, se fez grande.
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Apoiadoras queridas, nesta edição fiz um vídeo falando um tanto mais sobre a Savedra e os caminhos que tenho percorrido dentro da sua escrita, bem como as conexões com as leituras anteriores (tudo se mistura/encontra). E temos também a participação especial de Ísis indicando alguns de seus livros favoritos.
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