Cartas para o amanhã

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Alguém se garante? #64

anamargonato.substack.com

Alguém se garante? #64

Tacos polidos, nados sincronizados (ou não) e o menino Zuke para atrapalhar.

Ana Margonato
May 12, 2022
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Alguém se garante? #64

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Amanhã,

Há pouco mais de dois anos atrás comecei a escrever sério. Digo isso porque escrever eu já escrevia fazia muito tempo. Mas só neste período da minha vida foi que a voz interna que me habita e que vive dando pitaco nas minhas decisões começou a dizer “escreve pra valer, esse é seu caminho”. Duvidei, mas obedeci.

Entre um texto e outro lá nas redes do menino Zuke, fui conhecendo outras pessoas que, assim como eu, também estavam nessa pegada de “escrever pra valer” e entre trocas e muitas palavras escritas, percebi que já não idealizava mais nada futuro a dentro que não fosse escrever como fonte de vida e de boletos pagos.

Falando assim soa bem mais bonito e fácil do que realmente é. Segui obedecendo, escrevi boa parte de um livro que já não sei se quero publicar, escrevi um livro infantil que ainda está na fase de receber o tão esperado e-mail “adoramos seu livro e queremos publica-lo”, estou escrevendo outro livro que definitivamente, quero muito publicar e criei este espaço aqui, que tem crescido a cada dia e se tornou meu cantinho mais querido de juntar palavras e trocar figurinhas com as pessoas que gostam de lê-las.

Muitas palavras escritas e como resultado, passos que parecem me levar adiante. É o movimento natural, você pode pensar. Mas acontece que para seguir adiante é preciso além de vontade e oportunidade, firmeza nos passos. Aquela garantida básica que a gente dá, o clássico, confio no meu taco. E aí eu lhe pergunto, alguém realmente se garante?

Em terras do menino Zuke, claro, todo mundo é bonito, bem-sucedido, filtro verão, textos cheios de romance pela vida, viagens e trabalho legal. Cada projeto novo de alguém parece ter recebido um caminhão de autoconfiança e profissionalismo. Longe de mim questionar o quão cada um confia no seu taco, mas o fato é que as informações deixaram de ser confiáveis, somos cada vez mais pressionados a mostrar um status de “sucesso” para quem está do outro lado da telinha e nisso, fica todo mundo acreditando que está todo mundo se garantindo enquanto rios de insegurança e medo transbordam, sem poder fazer barulho.

Cada novo grupo de pessoas que começam a acompanhar meu trabalho me geram dois sentimentos simultâneos, o primeiro é de satisfação, o tal do passo dado se materializando ali na minha frente, e o segundo é um frio na espinha que vai percorrendo meu corpo todo até chegar no meu ouvido e sussurrar “cada vez mais pessoas leem você, está realmente a altura dos passos dados? ”. Eu sei que isso não acontece só comigo, mesmo que o menino lá das redes me mostre o contrário.

Nado neste rio da insegurança e medo com uma frequência tão grande que estou até começando a acreditar que sei nadar. Acho que já aceitei que não vai ter ali uma ponte tão cedo e que o negócio é aprender a sincronizar o nado mesmo. Tenho fases. Algumas semanas realmente acredito que o nado fluiu e estou pronta até para um mergulho se preciso for e em outras, só queria que um redemoinho surgisse do nada e me levasse junto com minhas palavras todas.

Me parece razoável. O que seria a vida senão uma sucessão de fases. Um sobe e desce que por vezes me irrita e em outras até que curto porque chegou naquela parte que parece ser mais levinha. Não sei, fico pensando se este rio não seria menos largo se pudéssemos ser mais francos com os sentimentos que nos atravessam. Não estou dizendo para todo mundo que coloca um projeto novo no mundo deva gravar 10 stories e 5 reels contando de todos os perrengues e as muitas inseguranças que encontrou pelo caminho. Mas um cadinho de humanidade e vulnerabilidade não havia de fazer mal a ninguém.

Tenho me movido. Nem todos os passos são firmes. Mas todos têm me tirado do lugar. Não me garanto em tudo que proponho fazer, mas faço, sem taco na mão mesmo. Algumas coisas levam tempo. Muitos passos precisam de pernas fortalecidas para que haja garantia de que ali, a base é forte e o tombo, menos provável. Tempo não é o forte da nossa era, tudo é pra ontem, até a segurança que por vezes ainda não teve tempo de conquistar.

Talvez a certeza nunca chegue. Nem as pernas firmem. Os nados não sincronizem. Os tacos não fiquem polidos. Mas a gente vai seguir. Botar projetos no mundo. Atravessar o quartinho escuro. E saber que por ali, todo mundo um dia passa.

Com curiosidade e afeto,

Ana.

*********

Seguindo bem na linha deste texto de hoje, cá estou, atravessando meu quartinho escuro para contar uma novidade que está pulsando aqui. Eu e Fernanda Misumi (@fernandamisumi) lançaremos, dia 17 de maio, um Clube do Livro, o Dialeto Materno. Um clube com curadoria de mulheres mães que trazem livros escritos por mulheres mães, com uma literatura que aborda como tema central, a maternidade. Estamos muito felizes com este trabalho porque vai de encontro com muitas coisas que acreditamos. Mulheres (e quem mais quiser) se juntando para ler e dialogar sobre temas que nos une, afasta, machuca e acolhe, tudo ao mesmo tempo. É muito potência num espaço só. Se ficou interessada(o) e quer saber mais detalhes, me responde esta carta que lhe enviamos um e-mail com todas as informações.

Aproveita e já acompanha a gente lá na rede do menino Zuke no @dialeto.materno para não perder as novidades e dar aquele apoio.  

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2 Comments
Fernanda Misumi
Writes Miudezas Diárias
May 12, 2022Liked by Ana Margonato

Que lindeza de texto Ana!!!! É exatamente isso, com ou sem nado, com ou sem tacos polidos e pernas firmes nós continuaremos atravessando o quartinho escuro e botando projetos no mundo. E fico feliz de um dos projetos ser o Dialeto Materno, que fazemos com tanto empenho, dedicação e carinho! Sigamos s2 e juntas!

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1 reply by Ana Margonato
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