Atropelos da vida #03

Amanhã,
Deixei de te chamar de querido por pura intimidade, só amanhã para os íntimos, pode ser? Hoje quero falar com você sobre os atropelos da vida, afinal, quem não vive essa realidade, tempo cronometrado pra tudo, principalmente se for algo relacionado ao lazer e ócio.
Dia desses estava correndo pelo condomínio que moro no exato momento separado para esta atividade. Sabe como é, vida com criança você começo a organizar a agenda 6 horas da manhã para conseguir correr ás 18 horas. Pois bem, estava no início ainda quando começou um temporal, do nada, não tive tempo nem de voltar para casa, fiquei ilhada algumas ruas de distância de casa e me abriguei em uma garagem.
Depois de uma DR com o Pedrão que vive em conflito de agenda do seu horário de chuva com o meu horário da corrida, resolvi aceitar e esperar. Comecei a observar alguns meninos que estavam abrigados assim como eu, do outro lado da rua. Eles, ao contrário de mim, estavam amando a chuva, mais uma oportunidade de diversão, começaram a sair todos correndo na chuva, chutavam enxurrada, riam e se divertiam, até que um deles veio falar comigo.
“Porque você não corre na chuva também? Está refrescante”, perguntou um dos garotos. Respondi com um sorriso amarelo que não, mas no fundo o que estava sentindo mesmo era uma vergonha danada. Quando é que foi que me atropelei na vida? Me perguntei. Lembrei-me dos inúmeros banhos de chuva que já tomei nessa vida, das caminhadas não programadas que já fiz, dos livros que despretensiosamente já li pelo simples fato de amar ler, das conversas que já tive sem ter que olhar no relógio, dos sorrisos que já dei sem pressa de desmanchá-los.
Às vezes a gente se atropela, vai se envolvendo nos buracos de minhoca da vida e se perde, esquece daquilo que pulsa, que é prioridade, que faz a gente sorrir por dentro. Já nem lembra mais a ultima vez que parou e ouviu sua própria respiração e se perguntou quais eram os sentimentos latentes ali dentro naquele instante, o que deve ser feito vira regra e o que dá sentido pra vida vira quem sabe um dia....
Questionei-me profundamente sobre isso e meus olhos desaguaram junto com as águas do Pedrão. Sinto a poesia viva dentro de mim com mais frequência do que um dia imaginei que fosse possível, mas não basta estar viva, é preciso porta para sair, é preciso caminho percorrido pra saber para onde voltar.
Esquecemo-nos de nós mesmas com uma facilidade assustadora, precisamos vigiar e criar pactos que não permitam o distanciamento dos nossos sentimentos, a forma como sentimos o mundo e como queremos estar nesse mundo.
É preciso estar viva.
É preciso dançar na chuva.
Com afeto,
Ana
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