Cartas para o amanhã - Ciclos # 33

Amanhã,
Me perdoe se a coerência desta carta não for das melhores. Sabe quando você pensa em um determinado assunto e, ao ampliar a visão sobre ele vai encontrando várias conexões, como se o universo estivesse lhe deixando vários recadinhos pelo caminho e só agora você tenha entendido a comunicação. Pois então.
Estou a semanas querendo falar aqui sobre ciclos. Comecei em janeiro deste ano a usar uma ferramenta de acompanhamento do ciclo menstrual chamada Mandala Lunar, é uma espécie de agenda, em que você vai anotando tudo aquilo que considera relevante na sua rotina, alimentação, humor, disposição física, conflitos etc. Pode parecer no início que é só mais uma forma de ocupar seu tempo com mais uma tarefa diária, mas no decorrer dos meses, após analisar diariamente seu comportamento e sentimentos durante todo o ciclo, começa a perceber padrões, e isso, acredite, abre uma caixa de pandora das grandes.
Preencher a Mandala me fez olhar para muitos aspectos do meu comportamento e o sentir. Olhei para dentro, o que me nutre, o que melhora drasticamente meu humor, assim como questões que estão para além do meu controle, mas que possuem um poder substancial sobre a forma como me sinto. Resumindo, a percepção que tenho sobre mim mesma e a forma como me relaciono com o mundo foi aumentada em uns 200%.
Para além do olhar individual, monitorar meu ciclo me obrigou a olhar para a impermanência da vida. Existem certos padrões que se repetem mês a mês, mas são constantemente influenciados pela estação do ano, a lua, a vizinha chata, a amiga que não está na melhor fase, o cachorro que ficou doente, férias, a morte de um ente querido etc. A vida não é retilínea, imutável, nem planejada e executada como se vivêssemos no The Sims. Pode parecer meio óbvio isso, mas como lidamos com a vida quando ela sai do planejado?
Eu não posso falar por ninguém além de mim, mas pela experiência que tenho em conviver com seres humanos, eu diria que não somos muito bons com surpresas, com aquilo que não foi planejado. Estar no controle é a meta, o foco e, quando a vida mostra que o planejamento é uma grande ilusão, encontramos as mais variadas fugas, das licitas as ilícitas, das conscientes as inconscientes. Sentir que tem o controle é sentir os pés firmes no chão, saber para onde eles estão indo. Por isso é tão difícil abdicarmos desse posto que a gente teima em acreditar que é nosso.
Agora um recorte para as últimas semanas, principalmente os últimos dias. Tenho planejado falar sobre esse tema já faz um tempo, mas sempre aparecia algo mais urgente para ser falado ou transbordado por mim, fui deixando para depois pois pela primeira vez na vida resolvi não planejar algo, tenho deixado que os temas das cartas surjam livremente, no decorrer da semana, conforme a vida vai sendo vivida. Nisso chegou feriado, momento em que queria aproveitar para escrever carta, revisar livro, terminar uma crônica, reescrever um conto e quem sabe, se tivesse sorte, sentar de bobeira uma meia horinha. Resultado do plano: Uma criança doente e uma mãe que sequer dormiu, pudera escrever.
Neste momento, véspera do envio desta carta, estou aqui, com o resfriado que peguei da minha filha, assoando o nariz, tomando bastante água e escrevendo sobre ciclos, controle e impermanência. O universo tem me mostrado através de seus recadinhos constantes que a vida é um punhado de linha, emaranhada entre começos, meios e fins, sendo desenrolada através de cada ciclo que se vai, até chegar no fim do carretel. São tantas as fases que se iniciam e se encerram que às vezes nem percebemos. A maternidade é um ótimo exemplo, são muitas as etapas vividas desde o início desta jornada que eu diria que são muitas as linhas emaranhadas do carretel que se vão neste percurso.
Entre surpresas e coisas das quais prevejo, mas não controlo, pensar que a vida é pura impermanência, é para mim, acolhedor. Não há mal que não passe, não há lagrimas que não sequem, não há felicidade, que não acabe. Tudo chega e tudo se vai. Os ciclos, cheios de suas linhas, emaranhadas, imperfeitas e complexas, se fazem presente na dança da vida. A nós, resta tentar aprender a dançar.
Com curiosidade e afeto,
Ana.
Recadinho: Semana que vem não teremos carta. Vou tirar uma mini férias (talvez esteja sendo um pouco ousada chamar viagem com criança sem o pai de férias, mas o clima de férias ao menos estará presente).
Dia 23/09 estou de volta com os meus devaneios por aqui!
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