Cartas para o amanhã - Criatividade versão 2.0 #18

Primeiramente, desculpas pelo email anterior, tive problemas com a plataforma de envio.

Espero que agora esteja ok, caso haja algum problema com seu email, por favor, me escreva.

Agora, vamos para nossa carta.


Amanhã,

Sempre fui boa nesse negócio de imaginar futuros diferentes, ou pouco prováveis, se assim preferir chamar. Num estilo bem fantasioso sabe, onde não havia limites para a criatividade, o elemento surpresa no final era "probabilidade zero de acontecer na vida real".

Então, quando coisas pra lá de fantasiosas começam acontecer na vida real o mundo da imaginação parece ficar um tanto quanto perigoso, com tarja vermelha contendo "cuidado, perigo à frente". Desde que entramos na era em que se aproximar de outros seres humanos pode ser algo fatal e que o uso de máscaras e o isolamento social se tornaram a melhor maneira de sobreviver, imaginar um futuro diferente para os padrões atuais deixou de parecer tão atrativo pra mim.

Fiquei refletindo bastante se foi esta a razão pela qual minha criatividade tenha se ausentado tanto da minha fábrica de ideias desde o início da pandemia, faz um pouco de sentido, não faz? Tenho lido tantas pessoas falando sobre a falta de criatividade e até mesmo a vontade de criar, porque a arte tem dessas coisas, seja qual for o meio que utilize, existe uma pulsão inserida no que produz que vai além da peça criada ou no meu caso, das palavras aglomeradas, a criatividade se insere no sentido que tudo aquilo tem para quem cria e no quão toca quem a consome.

Pensei bastante nisso porque talvez a criatividade não tenha se ausentado, mas mudado de forma. Em tempos em que a esperança parece distante, a criatividade pode se mostrar em fisionomias não convencionais, se esconder nas pequenezas do dia a dia, naquilo que diante de uma vida “normal” poderia se quer ser notado, mas que diante de cenários fantasmagóricos, pode ser não só visto, mas apreciado e quem sabe, inspirador.

Dia desses li um mini conto bem simples em uma newsletter, daqueles que provavelmente foi criado sem muita intenção e inserido ali, no meio das divagações da autora sem pretensão alguma de tocar ou passar uma mensagem motivadora. Mas eu, que estava em um dia particularmente difícil, envolta entre choros intensos de uma criança que verbalizava a saudade que sente de uma pessoa muito querida e uma conversa difícil sobre frustração, senso de comunidade e resiliência, traduzida na “versão infantil”, li aquele mini conto com tanta avidez, me nutri de cada palavra inserida, sem pensar se naquele contexto a vírgula era proposital ou não, apenas senti o que cada palavra tinha a me dizer, senti a arte que ali habitava e me alimentei de cada porção que ela podia me dar. 
 
Entendi que a criatividade vai para além das grandes obras, ela é uma presença, a forma como se olha para a vida, não se restringindo aos que dela utilizam como pulsão para criar, mas para todos aqueles que desejam de alguma forma, ousar.

Que a criatividade se faça presente na sua vida e que de alguma forma nutra seus dias para que, mesmo diante de tanta escuridão, possa ter momentos em que a luz prevaleça.

Com curiosidade e afeto,

Ana.

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