Cartas para o amanhã - Menina dos olhos brilhantes #13

Amanhã,
Esta semana estou pura nostalgia, todo aniversário da garotinha que chegou na minha vida à três anos atrás tem me gerado esse sentimento. Não sei dizer se isso é algo que acomete toda mãe, mas sei que comigo vem acontecendo involuntariamente, como se a cada final de ciclo houvesse um balanço invisível do tempo vivido sendo mostrado na minha tela mental.
Eu, particularmente, gosto desses momentos de retrospectiva que vira e mexe o universo me traz. Tiro muitos aprendizados e sentimentos que me nutrem como se fosse um ritual de fortificação e realinhamento dessas experiências. O aniversário da Isis, em específico, me mostra muita coisa, a maternidade é de uma intensidade perfurante, que mesmo que não queira lhe atravessa e transforma muitas coisas.
Neste aniversário em específico o balanço invisível foi profundo, lembrei do aniversário de dois anos que ocorreu após 15 dias do inicio da quarentena, pedimos que todas as pessoas próximas a ela gravassem vídeos de felicitações e, naquele clima de muita apreensão e medo do desconhecido, uma festa recheada de presenças virtuais e estranhamento ocorreu.
Nem nos meus sonhos mais esquisitos (e olha que tenho muitos) fui um dia capaz de imaginar o segundo aniversário da minha filha nesses moldes, muito menos que, após um ano, o cenário fosse o mesmo, só que piorado. Claro que dessa vez ninguém mais suportava a ideia de uma festa virtual, e partimos para o meio do mato (melhor decisão da vida).
Mas para além das festas esquisitas, o que mais refleti foi sobre a capacidade de transformação e adaptação das crianças, minha filha viveu esse um ano em meio a uma pandemia, cercada de insegurança e apreensão, e ela brincou, entre conversas sobre máscara e aproximação, ela dançou, diante de visitas apreensivas ao avô no hospital e em seguida sua partida, ela conversou e essa perda no coração, guardou.
Diante de um país em colapso ela olhou a borboleta saindo do casulo, a manga caindo do pé e passeios com rua vazia no escuro. Demonstrou também sua insegurança, medo e frustração, pediu colo, abrigo e sempre que sentiu necessidade, segurou minha mão. Mas em momento algum vi essa menina sem brilho no olhar, sua vontade de viver vai além para das circunstâncias, sua energia atropela o apesar de e dá aula aos olhos adultos que observam seu modo de enxergar e ser presença no mundo.
As crianças são a esperança em carne e osso.
Que privilégio o meu poder habitar o mesmo lar desse par de olhos brilhantes e pés que não se cansam de buscar a luz que ilumina o dia.
Não faço ideia de como será esse novo ciclo amanhã, só sei que a presença dessa garotinha deixará tudo, no mínimo, mais interessante, bagunçado e com cara de vida sendo vivida.
Com curiosidade e afeto,
Ana.

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