Cartas para o amanhã - Minha prece e minha oferenda #12

Amanhã,
Bem vinda à vida de quem se percebe nela. Esta foi à frase que escrevi no meu caderno às 5hs da manhã, após ter discorrido sobre os inúmeros desconfortos que tenho sentido ao viver na minha própria pele. Sinto a percepção de mim mesma se aflorando a cada dia, mas nem sempre olho para tudo isso com bons olhos, junto com o aproveitamento e compreensão daquilo que me atravessa, vem à dor, que é amiga vizinha da ansiedade e comparação. Se conhecer é desconfortável, concluo.
Talvez esta seja a minha palavra do momento, desconforto. Dentre tantos sentimentos que se fazem presentes na minha vida nesta fase, o desconforto certamente tem ganhado de lavada, caso seja isso, uma competição. Me vejo em tantas hipóteses que o maior dos sentimentos é ele, seja por mim ou pelas histórias que me atravessam, desconforto é a palavra da vez. Pergunto ao me caderno o que esse tal gosta de comer, talvez um livro que lhe agrade, um filme clássico ou uma música aleatória no spotify, quem sabe assim consigo ocupa-lo e mante-lo longe de mim penso, mesmo sabendo que ele consegue se fazer presente em mais hipóteses do que sou capaz de prever ou controlar.
Só me resta aliar-me a ele então, constato. Serei eu amiga desse desconfortável, deixarei que me faça remexer na cadeira, andar sem saber para onde ir, correr com a esperança de sentir o vento batendo no rosto mostrando a beleza da vida, deixarei que me consuma por inteira, para então, não mais causar efeito algum. Não me vejo atravessando-o sem antes deixa-lo me inundar e me ver integralizada.
É isso, nadarei nos lagos desconfortáveis que me habitam e de lá sairei mais leve, deixando ali o que não mais me pertence e levando comigo somente a parte que me cabe. Certamente a dor me acompanhará em todo esse processo, mas essa eu já me inundei e não mais a temo. Quero verdades que escondo de mim mesma e sentimentos que me levam a caminhos que jamais trilhei. Quero me ver por inteira, quero deixar de temer aquilo que sempre foi meu.
Sei que deve estar me achando inocente não é mesmo amanhã, seria possível atravessar o tal desconforto assim, em um só mergulho? A minha resposta é, acho pouco provável. Não creio que o que o mova seja um obstáculo ou algo parecido que possa ser superado ou esquecido, o que o fomenta vive dentro de mim e embora muitas vezes o meu desejo seja o banimento, tenho aprendido a me ouvir e julgar menos. Ele não se vai por completo, mas é possível superá-lo muitas vezes.
Faço dos mergulhos minha prece e minha oferenda. Peço e agradeço. Choro e alivio. Desço até onde meu folego aguenta e saio da água no tempo que minhas pernas pedem.
Minha prece e minha oferenda. Mergulho em mim e conheço outro alguém.
Que mergulho deseja fazer?
Me conta!
Com curiosidade e afeto,
Ana.

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