Cartas para o amanhã

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Cartas para o amanhã - Qual o preço? # 29

anamargonato.substack.com

Cartas para o amanhã - Qual o preço? # 29

Ana Margonato
Aug 12, 2021
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Cartas para o amanhã - Qual o preço? # 29

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Amanhã,
 
Qual o preço pago pela autenticidade? E por se moldar para caber?

Já fui a pessoa que se apertava, tirava pedaços, espremia até não aguentar mais para caber, para me sentir pertencendo. Acreditava que para gostarem de mim tinha que ser o que as pessoas queriam que eu fosse, mesmo que hoje conclua que na verdade eu não fazia ideia do que era esse querer. Mas eu tentava, bastante, fazia de tudo para agradar, desde anular minhas vontades, até fingir ser uma pessoa que definitivamente, não era eu.

Depois de tanto tempo nesse ritmo, o preço começou a ficar caro, desde crises de ansiedade até gastrite, meu corpo avisava que não tinha mais como fazer todo o movimento exigido para caber, era preciso pensar em novas formas de se relacionar sem perder a saúde, física e mental, era preciso deixar os papéis de lado e começar a me conhecer. Esse foi o recado de algum eu do futuro que em algum sonho me visitou, não estava convencida de que seria possível viver sem agradar, mas resolvi tentar a sorte.

Decidi começar na humildade, falei alguns não. Feito passarinho que acabou de se libertador de um brejo com areia movediça, senti o ar entrando forte, indo direto para os pulmões e saindo pelas narinas numa espécie de transe. O gosto da liberdade foi doce e sem nem pestanejar, fui provando desse doce cada dia mais.

Depois de um tempo me senti preparada para não ofuscar mais minhas verdadeiras vontades, ou ao menos parte delas, nisso vem aquelas conversas difíceis com familiares nas quais você “revela” que não é exatamente do jeito que gostariam que fosse e não tem mais pretensão de ser. Essa fase requer bastante prática da fase do não, terapia ajuda demais e uma dose de coragem cai bem também. O resultado? O ministério da saúde adverte, deixar de fazer algo que fazia só para agradar pode causar sorrisos involuntários, disposição revigorante e um pouco da sua dignidade de volta.  

Mas viver a autenticidade também tem seu custo, não foi e não é fácil lidar com a desaprovação alheia. Somos seres sociais, queremos sentir que fazemos parte de algo, por isso é tão difícil deixar de se espremer para caber. Decidir viver aquilo que acredito tem sido um dos meus maiores desafios, e também orgulho, o qual devo a maternidade. As grandes mudanças que ocorreram na minha vida após a chegada da minha filha foram uma espécie de limpa vidro, passei a enxergar e sentir coisas que antes estavam embaçadas aqui dentro.

Assumi meu lugar no mundo, como mãe, filha, irmã, amiga, companheira, escritora, humana. Passei a olhar o mundo através das minhas lentes. Como tudo na vida, tem beleza e tem dor, tem fascínio e desconforto. Tudo na mesma medida as vezes, mas é meu, são as minhas partes ali e isso de alguma forma me faz não querer deixar de explorar e querer mais.

Sem pretensão alguma de ter respostas, acredito que viver suas verdades ou suas mentiras requerem um preço. Variável, não comparável e principalmente, muito atrelado a sua história.

Espero um dia viver o mais próximo possível de minhas verdades e que o preço a se pagar não seja tão relevante assim. Ao menos não para mim.

Com curiosidade e afeto,

Ana.



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