Cartas para o amanhã - A última a sair apaga a luz #43
Cartas, enviadas ao amanhã, todas as quintas-feiras.
Amanhã,
Reparei esta semana que minha caixa de e-mails está mais vazia. Não apenas porque tenho ficado menos nas redes sociais e lido mais conteúdos diversos, inclusive as newsletters que até então, viviam se acumulando. Elas têm chegado com menos frequência. E não, eu não deixei de acompanhar nenhuma. Elas simplesmente estão mais escassas.
Fiquei pensando nisso. Este ano tem sido um aglomerado de tristezas e desilusões. Não me parece nada estranho dizer que agora, próximo do seu fim, as pessoas já estejam querendo ir embora da festa. O último a sair apaga a luz. Ouço alguém gritar. O casulo parece a melhor opção.
Não os julgo. Pelo contrário. Já me vejo integrando o movimento. Certamente farei uma pausa generosa entre dezembro e janeiro. Não vejo nexo algum (exceto o fato de vivermos no capitalismo) tentar viver uma linearidade no trabalho, se não somos uma constante enquanto seres humanos. Pausas são para mim elemento essencial para uma vida consciente.
Certamente que na prática isso se faz bem mais complexo. Eu sou a pessoa que pausa e se sente mal por isso (ainda). Sou a pessoa que se justifica (não mais para os outros, mas para si mesma). Sou a pessoa que fica bolando inúmeras ideias durante a pausa porque sente lá no fundo que não deveria pausar.
É um processo longo, que requer tempo e cuidado. Cada pausa é uma régua na plantinha do bem viver. Cada ócio é um adubo para a alma, que precisa muito mais do que criar. Eu amo escrever. Muito mesmo. Acho que nunca amei tanto fazer algo como a escrita. Ela é minha cura, meu alimento mais nutritivo. Sua pausa é quando escrevo para dentro. Sinto as palavras se encaixando, pedaços soltos se incorporando, a junção de dentro e fora se encontrando.
Tinha medo do silêncio, acho que já falei isso aqui. Hoje é nele que encontro meu centro. Minha força. Muitas vezes, alegria. Para além da melancolia que finais de ano sempre me trazem, acompanhar a minha pequena bolha de escritoras se preparando para o final de um ciclo, no silêncio, na pausa, me trouxe uma espécie de esperança. Não somos todos robôs. Ainda estamos vivos.
Com curiosidade e afeto,
Ana.
Como está por ai o clima de final de ano?
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