Cartas para o amanhã

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Cartas para o amanhã - Meu corpo não fala mais, ele grita #38

anamargonato.substack.com

Cartas para o amanhã - Meu corpo não fala mais, ele grita #38

Ana Margonato
Oct 21, 2021
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Cartas para o amanhã - Meu corpo não fala mais, ele grita #38

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Amanhã,

Esta semana eu dei uma travada. Sabe quando o agora parece te sufocar? Quando, mesmo que brevemente, você deixa de ver sentido nas coisas, nas suas vivências e na forma como sua vida está sendo conduzida. Às vezes isso me acontece, me recolho, tento fazer um buraco no fundo da alma para me esconder e ver se deixo de sentir o borbulhar de sentimentos que me assolam nessas ocasiões.

Nunca funciona, mas eu continuo tentando. A verdade é que tem sentimento que é para ser sentido e talvez eu esteja aprendendo um pouco sobre isso. Comecei a sentir meu corpo. Toda vez que, inconscientemente, ou não, fujo do contato com minhas emoções, meu corpo tem encontrado formas de se comunicar comigo e eu honestamente não tenho uma opinião formada sobre isso, só venho sentindo o eterno aperta e assopra desse contato tão próximo.

Meu corpo sempre falou. Já tive labirintite emocional, gastrite nervosa, dermatites, ácido úrico elevado, queda absurda de cabelo, entre vários outros problemas que, após exames e consultas constatava-se que eram de fundo emocional, era meu corpo falando, tentando me mostrar a causa e, embora ouvisse de um profissional da saúde que meu corpo estava tentando comunicar alguma coisa, eu não dava ouvidos. Tinha ali uma ideia do que deveria ser mudado, mas me via diante de um problema sem solução, acreditando que não havia saída e assim permanecia, até a próxima tentativa de contato do meu corpo.

Hoje, não sei se pela maternidade ou pelas inúmeras mudanças que ocorreram a partir deste evento, meu corpo não fala mais, ele grita. A minha relação com meu corpo mudou e mesmo que tivesse intenção de ignorá-lo, ele não permitiria. Venho tentando me relacionar com ele com mais afeto, embora ainda falhe miseravelmente nesta missão, sinto que ele resolveu se fazer ouvido e por isso, sou grata.

Não existe nada nem ninguém mais precioso que o nosso próprio corpo, já parou para pensar nisso? A nossa existência depende todinha dele e nós damos mais valor para o que a vizinha fofoqueira fala do que o que o nosso próprio corpo está comunicando. E porquê? Porque fomos ensinadas a odiá-lo, a todo custo, sempre que ele não reflita a perfeição, mesmo que isso não faça o menor sentido nem cumpra com regra alguma da lógica.

Não vou mentir dizendo que é gratiluz ouvir meu próprio corpo, ao menos para mim não é, ele costuma dar uns puxões de orelha bem doídos e me mostrar o que fico tentando não ver. Portanto não, não é nada fácil, mas viver se maltratando e mutilando o próprio corpo também não é, então que a gente sofra em busco do amor próprio.

Eu não faço ideia do porque estou falando sobre isso hoje, como falei lá no começo da carta, estou meio estranha esta semana e resolvi me deixar levar pelas palavras que resolveram sair sem pedir permissão.

Meu corpo tem se comunicado demais comigo, na sua maioria de forma incomoda. Tão incomoda que quase me faz querer voltar para o lugar da que se odeia e se aperta para caber. Um lugar tão familiar que quase se faz aconchegante. Mas meu corpo anda atrevido e, antes que eu pense em tamanho absurdo, ele me mostra as marcas que tais lugares deixaram, me lembrando o porquê saí de lá para não mais voltar.

Um relacionamento ainda novo, mas que tem dado indícios de que será longo. Meu corpo grita e eu, estou aprendendo a ouvir.

Com curiosidade e afeto,

Ana.

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