Cartas para o amanhã - O que eu perdi #37
Amanhã,
Faz um tempo já que venho deixando as urgências das coisas para depois. A consulta que demoro por marcar, o armário quase caindo da parede que depois de meses finalmente procurei alguém para consertar, o livro que pausei, os e-mails que deixei acumular.
Não consigo acompanhar todos os newsletters que assino, hora me pergunto porque me inscrevo em tantos boletins, hora concluo que leio pouco, tempo depois praguejo o capitalismo que tanto me tira o tempo para fazer coisas prazerosas. Em um vai e vem de culpa, não culpa, os e-mails vão ficando por serem lidos, até que consigo ir diminuindo a fila, porque zerar mesmo eu já desisti tem tempo.
Semana passada estava aproveitando meu “horário de almoço”, leia-se criança na hora de TV e eu podendo ler algo sem interrupções a cada 2 minutos, para diminuir a fila de e-mails, quando li um que dizia assim “aproveitem para garantir seu exemplar do meu livro na pré-venda que será dia 20 de agosto”. Eu estava lendo isso em outubro. Outro que falava sobre o lançamento de um seriado que por coincidência, já assisti a primeira temporada todinha.
Lançamentos, novidades, tudo isso já não era mais o que estava proposto ali naqueles e-mails, pois na linha do tempo, aquilo já tinha transitado do futuro para o passado. O novo não era mais novo, a pré-venda já havia se tornado pós-venda e as séries já não eram mais uma inovação.
Estar no lugar errado da linha do tempo é uma experiência interessante, fiquei ali lendo tudo que eu perdi e pensei que diferença teria feito se tivesse acompanhado tudo no presente? Talvez tivesse adquirido um livro na pré-venda, assistido a série com mais entusiasmo porque foi indicação de alguém ou quem sabe lido uma novidade que fizesse sentido naquele momento específico.
As vivências mudam e acho que não tem como determinar se isso é algo bom ou ruim, a vida simplesmente acontece e um e-mail lido com um certo atraso pode se tornar inspiração para uma escritora que divaga sobre as pequenezas da vida. É bonito de ver a linha da vida se formando, cheia de tantos mistérios que nem sempre conseguem se enquadrar no que a gente chama de sincronia da vida, coincidência, milagre ou qualquer outra coisa que nos faça sentir que algo de especial está acontecendo.
A vida está posta, às vezes no presente, muitas outras no passado e se tivermos sorte, no futuro também.
Com curiosidade e afeto,
Ana.