Cartas para o amanhã

Share this post

Cartas para o amanhã - Uma Simone cansada #46

anamargonato.substack.com

Cartas para o amanhã - Uma Simone cansada #46

Cartas enviadas ao amanhã, todas as quintas-feiras.

Ana Margonato
Dec 16, 2021
1
Share this post

Cartas para o amanhã - Uma Simone cansada #46

anamargonato.substack.com

Recadinho rápido. Para que estas cartas não caiam na sua caixa de spam, adicione o e-mail indicado como remetente em seus contatos ou crie uma regra de transferência da caixa de promoções para caixa de entrada com o título “cartas para o amanhã”.

Se gosta do que escrevo por aqui, mas ainda não leu todas as edições, acesse meu arquivo e se possível for, indique para mais pessoas.

Share Cartas para o amanhã


Amanhã,

Pensei em falar com a Simone aqui (eu sei, a Simone de novo), mostrando para ela o quanto tentei, de todas as maneiras, fazer o meu melhor este ano. Mesmo que não pareça. Mesmo que eu não acredite. Mas achei melhor não. Primeiro porque acho bastante problemático esse “clássico da cultura brasileira. “ Então é Natal, e o que você fez? ”, já começa a música nesta inquisição velada, como se manter-se vivo já não fosse bastante coisa não é mesmo. Depois segue ladeira abaixo “Pro rico e pro pobre, num só coração”, até entendo aí a tentativa de criar uma atmosfera amorosa e harmoniosa para o Natal, mas “num só coração” é um pouco forçado, até mesmo porque o coração do rico certamente estará propenso a uma melhor saúde e diante de uma mesa farta, o que, neste ano, definitivamente, não será o caso do pobre.

Como podem perceber, aqui temos uma Simone cansada. Acho inclusive que se a letra desta música fosse escrita em 2021 certamente seria bem diferente, talvez algo como “Então é Natal, e você sobreviveu” ou ainda “O rico que sobe, e o pobre desce outra vez” quem sabe ainda algo como “Que seja feliz quem, tomar a vacina, e respeitar o outrem”.

Brincadeiras à parte, sabemos que a letra original, escrita por John Lennon e Yoko Ono foi um protesto contra a guerra. Mas como a versão abrasileirada tomou outro rumo, reside aí a revolta anual com a Simone. Mas nem sei porque estou aqui ainda falando de Simone, já que havia dito que não iria apresentar um balanço do que eu fiz, e não vou.

Acredito que para olhar a minha retrospectiva, como costumeiramente sou instigada a fazer, preciso aprender a reconhecer realmente minhas vitórias. Eu não sei fazer isso ainda. Não da forma como acredito que deveria. Olho para tudo que fiz neste difícil ano e até reconheço meus esforços, mas o olho cresce muito mais para tudo aquilo que não aconteceu. Atribuo a “culpa” majoritamente a mim, “não aconteceu porque não me esforcei o bastante” é a primeira frase sussurrada no meu ouvido por uma versão minha que ainda não aprendeu a me amar como ama o outro.

Não quero olhar para o que aconteceu. Mesmo que haja muita coisa boa por lembrar. Quero olhar para mim hoje, e ver as transformações ocorridas no corpo e na alma diante de tudo que foi vivenciado. Acho que a retrospectiva somos nós, no agora.

Talvez não faça muito sentido. Talvez sim. As pessoas vivem suas fases e às vezes nos alinhamos com o pensamento alheio, ou não. E está tudo bem. Demorei para entender isso. Nem sempre é uma questão de analisar, se incomodar ou até mesmo praguejar. A sintonia por vezes não ocorre. Vejo aí beleza, lugar de aprendizado, proximidade ou afastamento, o que pode ser bom também.

Carta meio confusa né, e quem não está nesse final de ano? Não sei ao certo se a mensagem que quero passar (se é que tem alguma mensagem nisso tudo) está tendo êxito. É que o ano foi difícil, para alguns muito mais de que para outros, mas dificilmente alguém saiu ileso. É preciso afeto, com o outro, mas principalmente consigo mesmo. Não há amor que resista a um coração que não consegue se abraçar. E não há corpo que não sucumba a culpas que não devia carregar.

Fugindo do clima nebuloso do início desta carta, encerro-a lhe desejando que nestes últimos dias do ano, possa genuinamente se amar. Independente do seu balanço. Do que não conseguiu realizar. Dos desejos que teve que abandonar. Você certamente fez o seu melhor e para a Simone, você não precisa se explicar. Desejo que esse amor cresça e que no ano que está chegando, seja ele sua força e os sapatos que sustentam seus pés para novos caminhos trilhar.

Com curiosidade e afeto,

Ana.

Esta foi a última carta do ano!

Obrigada por estarem aqui, me lendo, nada disso faria sentido sem vocês.

Desejo um 2022 que vá além do sobreviver. Que hajam muitas cartas por aqui. Que estejam comigo nos risos e nas lágrimas ao me ler.

Share this post

Cartas para o amanhã - Uma Simone cansada #46

anamargonato.substack.com
Comments
TopNewCommunity

No posts

Ready for more?

© 2023 Ana Margonato
Privacy ∙ Terms ∙ Collection notice
Start WritingGet the app
Substack is the home for great writing