Muita gente nova chegou aqui nesses últimos dias, portanto, antes de iniciar esta edição extra quero dar boas vindas a todas as pessoas que adentraram no meu quartinho aqui no Substack, fiquem a vontade para ler e comentar as muitas cartas já publicadas.
Cartas para o amanhã é um projeto semanal, em que envio cartas para o amanhã, no formato crônica (ou algo do tipo) e quinzenalmente, duas edições extras com formatos e temas variados: Na primeira quinzena ensaios, vídeos, contos e que mais der na telha e na segunda, indicações de conteúdos (ou pessoas) que possuem forte influência nos meus gostos, portanto, na minha visão de mundo, portanto, no que escrevo.
Todas as edições extras são abertas aos assinantes pagos e gratuitos.
Sem mais delongas, vamos para as indicações deste mês.
Olá, como vocês estão?
Passei boa parte da minha vida de leitora lendo ficção, fantasia, realismo mágico etc. Foram esses estilos que moldaram em mim a paixão pela leitura. Com exceção de O Diário de Anne Frank, não havia lido nenhum livro autobiográfico até meus trinta e poucos anos.
Um caminho sem volta, gosto de dizer. Após ler a primeira biografia da Maya Angelou, senti no peito o amor pela história alheia, uma sensação diferente das leituras de ficção e afins. Sem critério de valor, melhor ou pior, apenas diferente. Por coincidência (ou não), foi nesta época que entendi meu propósito na escrita, o que pulsa em mim são as histórias, sejam elas fictícias ou não, contém ali o mistério que envolve o contar e, no caso das autobiografias, a forma como cada pessoa conta sua história diz muito de si e pode dizer também, sobre aqueles que as leem, pelo modo como chega em cada um.
A ordem das indicações não possui nenhum critério de colocação, não consigo hoje elencar “os melhores” livros autobiográficos, trouxe nesta edição apenas sete dos que mais gosto, volto com outros em oportunidades futuras.
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A mulher dos pés descalços - Scholastique Mukasonga
Tenho uma afinidade muito grande com a literatura africana. O estilo que utilizam ao contar as histórias, as minucias tão bem colocadas no texto. Scholastique nos tira muitas lágrimas neste livro de memórias sobre sua infância em Ruanda, anos antes do Genocídio, no qual sua família foi brutalmente assassinada, momento em que ela estava a muitos quilômetros dali.
Um livro profundo, genuíno e belo. A forma como contamos uma história, mesmo avassaladora, pode ser de uma beleza inigualável.
Afetos Ferozes - Vivian Gornick
A escrita da Vivian é muito peculiar e isso me atrai. A escolha da narrativa, como decidiu falar de sua família, infância, com enfoque na sua relação com a mãe é genial.
Vivian vai fundo em sua intimidade, nas dores e deleites, construindo uma relação com o leitor que além de nos levar junto para suas questões, nos coloca diante das nossas.
Mamãe & Eu & Mamãe - Maya Angelou
Brinco nos clubes do livro que já levei a leitura desta autobiografia que queria abrir a igreja Maya Angelou (Maya é nossa guia e nada nos faltará). É difícil falar pouco da Maya, sobre este e todos seus outros livros porque ela foi uma mulher excepcional, muito a frente de seu tempo e que possuía uma força tão grande, capaz de permanecer viva, mesmo após sua partida e ser fonte inspiradora para todos que a leem.
Mamãe & Eu foi o último livro que escreveu. Aos 85 anos colocou em palavras sua relação com Vivian, a mãe, contando histórias que te levam do riso ao choro em questão de minutos. Um livro profundamente humano, que te faz refletir sobre a ambivalência da vida, as contrariedades e o amor, sempre o amor.
Blue Nights - Joan Didion
Quem está aqui há bastante tempo com certeza já me ouviu falar sobre este livro e outros da autora. Tenho um encantamento pela escrita da Joan e este livro em particular nos leva a um lindo e profundo ensaio sobre a relação de uma mãe e sua filha adotiva. Joan traça um caminho de volta, analisando o que poderia ter sido diferente (ou não) após a morte de Quintana. Este livro foi lançado após Joan ter escrito O ano do pensamento mágico (um de seus livros mais premiados), no qual relata a morte do marido, que morreu um ano antes da filha. É impossível falar de livros autobiográficos, sem falar de Joan Didion.
O quarto de despejo - Carolina Maria de Jesus
Quando li Carolina pela primeira vez fiquei sem palavras. Pesquisando minuciosamente sua vida para o Dialeto, entristeci de um jeito que só a literatura é capaz de ajudar. Ao lê-la novamente, encontrei em suas palavras uma força difícil de explicar. Carolina é grande, imensa, e este livro, tão grande quanto ela.
Só garotos - Patti Smith
Sou tão fã da Patti que já fiz até uma edição extra todinha para ela. É uma grande honra ter esta artista (no seu sentido mais amplo) viva, e produzindo arte e mais arte de presente para nós. A escrita da Patti é simples, encantadora e generosa. Só garotos te leva a conhecer uma relação tão linda, uma vida cheia de percalços e formas de estar no mundo verdadeiramente inspiradoras.
Eu sei porque o pássaro canta na gaiola - Maya Angelou
Acho que entenderam a brincadeira com o lance da igreja né? hahaha. Não poderia fazer uma edição de livros autobiográficos sem inserir este aqui. Na minha humilde opinião (e de muitos críticos também) Eu sei porque o pássaro canta na gaiola é um dos mais importantes livros autobiográficos da história.
Maya narra sua infância e parte da adolescência nesta autobiografia de tirar o fôlego. Demorei semanas para conseguir falar deste livro após a leitura. Impactante não apenas pela história dela, que é fora da curva, mas pela forma como ela decide conta-la. Como já falei lá no inicio desta edição, como contamos nossas histórias diz muito sobre nós e pode dizer também de quem lê, se estivermos dispostos a genuinamente, ouvir.
Esta edição está chegando ao fim. Espero que gostem das indicações, mês que vem tem mais.
Já leram algum destes livros? Me conta nos comentários.
Com curiosidade e afeto,
Ana.
Que seleção maravilhosa, Ana. Para deixar guardado. <3
Oi Ana, sou uma das leitoras mais recentes e é a primeira vez que eu comento. Queria agradecer as indicações, alguns eu já li e compartilho com você a admiração imensa pela Maya Angelou. "Eu sei porque o pássaro canta na gaiola" é um dos livros autobiográficos que mais me marcou na vida. É lindo, tocante, triste, comovente e de certa forma, até esperançoso (apesar de tanto sofrimento naquela infância).
Vou anotar aqui as dicas dos que eu ainda não li porque também gosto demais desse gênero literário. Gosto de conhecer as miudezas da vida das pessoas e ver o que temos em comum e o que existe de extraordinário sendo vivido por aí.
Um beijo e obrigada!