Olá pessoal, vocês estão bem?
Esta é a primeira edição extra do mês das Cartas que deveria ter sido enviada na semana passada, porém, aqui jaz uma escritora mãe tentando, falhando miseravelmente, mas fazendo, o melhor, dentro das possibilidades.
Quero escrever alguns ensaios, tenho várias ideias pairando, mas nenhuma se concretizou no papel, seja por falta de tempo ou coragem, não rolou. Ontem, num momento “buscando inspirações em coisas aleatórias” visitei vários escritos meus, de outros tempos, uma versão que quase não reconheço, porém, ainda me reside.
Li alguns poemas (faz tanto tempo que não escrevo poesia), crônicas, contos etc. Decidi fazer uma espécie de pot-pourri nesta edição. Misturar trechos que me chamaram a atenção, algumas colagens que ando inventando, enfim, uma mistura de coisas que talvez se conversem ou não façam sentido algum. Isso fica a critério de vocês.
Sombras, venham até mim.
Escrevi esta frase em uma crônica que me fez lembrar do livro O oceano no fim do caminho do Neil Gaiman (um dos livros e autores favoritos no meu mundo). Uma infância que flerta com as sombras, crianças possuem mais coragem para enfrenta-las que nós, adultos. Em qual momento a perdemos pelo caminho?
Eu sei, eu sei, a vida faz dos mistérios um atrativo, uma forma de se fazer assistir até o fim.
Sem os mistérios, seriam apenas sombras?
[Se sim, isso seria necessariamente ruim? ]
Porque não escrevo mais poesia?
(Me pergunto enquanto leio várias, detestando todas).
Tem dias que me pego no auge
Sinto aquilo que parece não ter mais remédio
Que amavelmente chamam
Desilusão.
Porque afinal, escrever?
Aguarde 48 horas, inspira, expira e vai.
Leio, leio, leio novamente. Tudo ali não me parece em nada com algo que escreveria. Mesmo assim, me vejo repetindo os mesmos padrões. Histórias que se contam sozinhas, significados que surgem a partir daquilo que, na ausência de uma explicação que me satisfaça, invento minha versão.
[Indomável]
Aquilo que habita o coração dos tentantes, poetas, entregadores de boas novas e também viajantes. Característica que não se escolhe, nem se pode esconder. Domar-se a si mesmo não é algo que se faz apenas com as mãos, é preciso pernas, braços e um pedaço de alma para o laço se prender. Qualidade ou defeito, depende de como analisar, pertencer ao mundo de quem não se encarcera, nem se encaixa, é ser pássaro que aprende a voar. Atributo próprio dado aos que lutam, apesar de.
Quando criança, acreditava que a vida podia ser controlada pela vontade. Se pedisse com muito apresso, o desejo seria atendido. Uma prece bem presidida e um pagamento honroso. Resultado na certa.
Esse sentimento foi o presságio, até que finalmente admiti que estava fugindo, não que comprar a árvore de Natal não fosse importante, mas naquele dia, com todos aqueles sentimentos que me sufocavam, estar ali era uma tremenda fuga de mim mesma. O excesso de estímulos me levava a um lugar onde não existia dor, somente a necessidade fidedigna de comprar velas aromáticas e um espremedor de limão, itens que eu jurava precisar, mesmo que não acreditasse no meu próprio discurso.
Olhar o passado com respeito. Contar o que tiver que ser contado, deixar ir aquilo que não cabe na história. Fazer da ficção uma extensão de si, do outro. Criar, a partir do que lhe habita e alcançar o que não é seu, mas passa a ser, quando as palavras se encontram.
Maximiliano estava a duas horas escondido embaixo da escada. Os gritos já irritados da mãe a sua procura não foram o suficiente para que deixasse o esconderijo e encarasse o que estava por vir. Ali estava seguro, o mundo a sua volta permanecia igual e ninguém, absolutamente ninguém, estava prestes a morrer.
A poesia comunica o que não sei dizer de outra forma, e eu não sei dizer muitas coisas.
Base
Abre a porta
Que o mundo vem vindo
E não costuma bater.
Abre as janelas
Que o alarido vem junto
E nas portas
Não vai se ater.
Prostrada diante do medo
Do que ainda resta
A perder.
O brilho
Que mora no canto dos olhos
A firmeza
Que se abriga onde ninguém vê.
É preciso força
Segurar o batente
Manter firme as pernas
Onde rasteira alguma há de vencer.
Continue cantando
Não esqueça parte alguma da canção.
Cante alto
O temor que assola
O desassossego constante
Lembre-se, não lhe é solo a solidão.
Braços encontram seu domínio
Pernas devidamente em posição.
O mundo esbraveja sua chegada
O alarido se mostra
E o corpo
O corpo canta
Mantem-se intransponível
E do batente
Ninguém passa.
Com curiosidade e afeto,
Ana
Ana, obrigada por compartilhar seus escritos. Sinto neles a beleza espontânea de quem escreve, não para o outro, mas para si.
E esta, afinal, não é a melhor escrita?
Obrigada por escrever.
Andreza