Cartas para o amanhã

Cartas para o amanhã

Share this post

Cartas para o amanhã
Cartas para o amanhã
EDIÇÃO EXTRA - Apoiadoras #27

EDIÇÃO EXTRA - Apoiadoras #27

Uma homenagem às mulheres que adentraram o tornado, e galoparam no vento.

Avatar de Ana Margonato
Ana Margonato
nov 13, 2024
∙ Pago
14

Share this post

Cartas para o amanhã
Cartas para o amanhã
EDIÇÃO EXTRA - Apoiadoras #27
4
1
Partilhar

Olá queridas apoiadoras,

Queria ter feito esta edição no formato vídeo, mas a necessidade de colocar as palavras no papel se fez maior. Por isso, aqui estou, com este texto que não é uma resenha, nem resumo de O perigo de estar lúcida de Rosa Monteiro, mas um compilado das minhas inquietações afloradas a partir desta leitura.

Aliás, uma confissão, eu detesto resenhas e resumos. Não tenho um motivo ou razão aparente para tal, apenas me ocorre, ao que suponho, naturalmente. Uma certa irritação toma conta, como se ler uma resenha fosse “estragar” a leitura do livro em si. Inclusive, quase morro de catapora vencida quando me pedem para fazer um resumo de algum livro. Como dizer a alguém as tantas sensações que aquele compilado de palavras me causou? Talvez isso esteja relacionado ao fato de que, todo livro sempre adentra em territórios nebulosos em mim e tenho dificuldade em verbalizar as partes que não me agradaram. Mistérios de uma mente um tanto quanto agitada demais.

Mas voltando ao livro de Rosa. Fui arrebata pela escrita, relatos e reflexões. Seria muito leviano dizer que O perigo de estar lúcida é sobre loucura, as camadas da grande análise feita nesta obra muito vão além disso, adentra a complexidade humana, nossas contradições e principalmente, a meu ver, a beleza que habita os territórios sombrios de todos nós.

Monteiro cita muitos e muitos artistas, seja para falar de suas relações com a arte e doenças mentais, seja para, de certa forma, abrir espaço para possíveis motivos que os levaram a um desiquilíbrio da razão. Nisso, me vejo profundamente afetada por todos os relatos trazidos sobre a vida de Silvia Plath.

Como disse anteriormente, este texto não é uma resenha, portanto não vou resumir aqui a vida de Silvia a partir da narrativa de Rosa. É provável que tudo que foi narrado ali seja facilmente encontrado na internet. Inclusive, talvez seja este o principal motivo pelo qual a história de Silvia tenha me tocado tanto: se assemelha a vida de muitas outras mulheres. No passado, presente e provavelmente, futuro.

Li pouco de sua obra até o momento, mas posso afirmar que os traços de sua luta contra os desequilíbrios da mente é amplamente presente, assim como a opressão por ser uma pessoa do gênero feminino. Silvia, que viveu entre outubro de 1932 e fevereiro de 1963, entendeu desde muito cedo as opressões sofridas pelas mulheres.

Em a Redoma de vidro, seu último livro publicado em vida, seu alter ego Ester afirma:

“E eu que soube que, apesar das rosas e dos beijos e dos jantares que o homem despejava sobre a mulher antes do casamento, o que ele secretamente desejava depois da cerimônia nupcial é que ela se estendesse sob seus pés como o tapetinho da cozinha da sra. Willard (...). E me ocorreu que talvez fosse verdade aquela história de que casar e ter filhos era como passar por uma lavagem cerebral, e que depois você ficava inerte feito um escravo num pequeno estado totalitário”.

É certo que Plath escreveu isso após o término do seu conturbado e violento casamento com o poeta Ted Hughes. Motivo este que deu início ao seu declínio final, terminando com seu suicídio. Ao refletir sobre esta trágica história, não consigo deixar de pensar nas tantas demais mulheres que foram vítimas de um sistema opressor, que esmaga, a ponto de levar muitas, a loucura.

Stella do patrocínio, Leonora Carrington, Charlotte Perkins Gilman, Silvia Plath, Tove Ditlevsen, Carmen Laforet, Janet Frame, Carolina Maria de Jesus. Estes são apenas alguns nomes de mulheres brilhantes na literatura, que tiveram seus trabalhos diminuídos, excluídos e rebaixados na sociedade, seja pela suposta loucura, pobreza ou qualquer outro motivo destinado a lhes rebaixar. Gênias das palavras, eram tidas apenas, como mulheres indignas de ser ouvidas e levadas a sério.

O que tais mulheres teriam escrito, se a sociedade lhes tratasse como homens?

Continue a ler com uma experiência gratuita de 7 dias

Subscreva a Cartas para o amanhã para continuar a ler este post e obtenha 7 dias de acesso gratuito ao arquivo completo de posts.

Already a paid subscriber? Entrar
© 2025 Ana Margonato
Privacidade ∙ Termos ∙ Aviso de cobrança
Comece a escreverObtenha o App
Substack é o lar da grande cultura

Partilhar