Cartas para o amanhã

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EXTRA #01 Cartas para o amanhã apenas para apoiadores

anamargonato.substack.com

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Ensaio: Saudade

Ana Margonato
Feb 14
4
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Olá apoiadoras queridas do Cartas para o amanhã.

Esta é a primeira edição extra e espero que gostem do conteúdo que preparei para vocês.

Em “homenagem” ao meu livro infantil recém lançado sobre as ambivalências do sentimento saudade, resolvi discorrer um pouco sobre este sentimento e suas tantas bifurcações.

Boa leitura!

Saudade. Um sentimento que adentrou minha vida nestes dois últimos anos sem qualquer planejamento. É possível que você já saiba que recentemente lancei um livro infantil – Ísis e a Saudade. Possível também que já tenha lido sobre como este tema chegou até mim, por isso, desculpas adiantadas caso esteja sendo repetitiva. É que o contexto importa e uma história no meio faz tudo ficar sempre mais interessante.

Carolina Michaelis diz que “Saudade é a lembrança de se haver gozado em tempos passados, que não voltam mais; a pena de não gozar no presente, ou de só gozar na lembrança; e o desejo e a esperança de no futuro tornar ao estado antigo de felicidade”.

Sequer passou pela minha cabeça pensar a saudade desta forma naquela manhã. Era nove horas e estava tirando uma criança de 2 anos e meio do parquinho para dizer que, naquele momento, atravessaríamos a avenida a nossa frente para que ela pudesse dizer adeus ao avô. Saudade não era algo plausível, o que reinava era o espanto. Quem diz a uma criança tão pequena que deve dizer adeus a alguém tão amado? Adeus. Não um até logo. Adeus de nunca mais. Para sempre.

Saudade do que? Seria meu pensamento se naquele momento, me dissessem que deveria refletir sobre este sentimento. Estávamos no meio da ponte. Entre a vida e a morte. A vida já não parecia mais habitar aquele corpo e a morte, ainda não ousava se apossar. Uma ponte longa e cheia de pregos pelo chão, obrigando uma passagem lenta e dolorosa.

A etimologia diz que o termo "saudade" provém da palavra latina "solitas", pela sua forma declinada "solitate(m)". Passou ao galego-português como "soedade" "soïdade" que deu origem a "soidade" e "saudade" em língua galega, "suidade" em língua mirandesa e "soidade" / "soudade" em língua portuguesa. Acredita-se que por influência de "saúde" e "saudar", surgiu a variante "saudade" que atualmente predomina em português. 

Saudar algo que não quer esquecer. Saúde. Da memória, do tempo, guardado dentro da gente. Nem sempre as memórias são gentis, lembra-se de algo que quer esquecer. Não sinto saudades daquele hospital, de assistir a travessia da ponte. Entre a vida e a morte. Penso que provavelmente minha filha sequer lembrará de algo assim. Dizem que podemos ter memórias a partir de dois anos de idade. Confere isso? Não sei. Deveríamos poder escolher nossas lembranças, utilizar o espaço destinado a elas com precisão, deixar ela bonita igual feed de Instagram, mas talvez isso nos fizesse viver mais enganados do que já somos.

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