Cartas para o amanhã

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Me contem o que não sei sobre mim #54

anamargonato.substack.com

Me contem o que não sei sobre mim #54

Palavras. Palavras. Palavras. Mestres e aprendizes de mim.

Ana Margonato
Feb 24, 2022
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Me contem o que não sei sobre mim #54

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Amanhã,

Marcelino Freire diz que a gente não escreve sozinho, as palavras escrevem também. É preciso diálogo. Interno. Que palavras meu corpo deseja parir. Que palavras aceitam nascer. Que histórias elas irão contar.

Palavras são os pedaços que saem da gente, formando quadro bonito. Mosaicos. Ou arma que se atira, acertando quem ousa lhe atravessar o caminho. Belas ou feias. Gentis ou maldosas. Palavras são partículas de quem as profere. Atestado de bravura. De quem ousa coloca-las no papel.

Estou tentando entender meu lugar no mundo. Inícios de ciclos devem ter este efeito. As constantes mudanças de quem acho que sou, me deixam sem identidade com uma frequência assustadora. Palavras são norte. Me agarro nelas. Tentando ouvir seus sussurros e segredos. Na esperança, lhes digo “me contem o que não sei sobre mim”.

Me falem como é me habitar. Conversem com a minha ansiedade e lhe dê afagos quando tudo parecer perdido. Palavras, me conduzam pelo rio. Eu não sei nadar. São minha bússola. Minha boia. Meu cilindro de oxigênio quando não há outra alternativa, que não seja. Mergulhar.

Prometo lealdade. Franqueza. Zero pudor. Quando se pari palavras livres, é preciso deixa-las vir em sua inteireza, sem remendo, censura. Pavor. Há de se olhar para o rio que se forma, ver o desaguar de uma história. Sentir o movimento das aguas que lhe conduzem para o desfecho final. Os diálogos que o antecedem. As perdas. As curvas. As encruzilhadas que se dissipam sem que haja a sua intervenção.

Um mundo todinho a sua frente, sem que planeje seu caminho, sua missão. O território que se forma ao meu redor é todo feito de palavras. Palavras que não disse. Palavras que guardei. Palavras que escondi. Palavras que furtei. Palavras que me mostram aquilo que não sei. Palavras que me levam onde devo estar. Palavras que me humanizam e abrem caminhos que meus pés querem pisar.

Escrever é além. Da sina. Do dom. Da dor. Do esperançar. Escrevo, pois não me dei outra opção. Estar a mostra, dar a cara a tapa no mundo. Ouvir o canto do pássaro e me comunicar. Para além de tudo aquilo que acho que sei, deixar nascer novas palavras é construir meus novos pedaços. Meus quadros bonitos e partes que vez ou outra atiro sem pestanejar.

Quando penso que me encontrei. Palavras me mostram que é só o começo. Me assusto. E acho bonito pra caramba. Na mesma medida. As escolhi como companhia nesta jornada. Mesmo que me sinta por vezes sufocada com sua presença. São elas que me devolvem o ar.

Palavras. Palavras. Palavras. Mestres e aprendizes de mim. Haja o que houver. Caminhem ao meu lado.

Com curiosidade e afeto,

Ana.

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