Cartas para o amanhã

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Meu corpo queima #48

anamargonato.substack.com

Meu corpo queima #48

Inferno astral, raiva e poesia.

Ana Margonato
Jan 13, 2022
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Amanhã,

Eu tinha uma carta pronta para lhe enviar. Já revisada e editada. Mas o assunto que abordei nela não estava me atravessando hoje. Não estava fazendo sentido todas aquelas palavras. Eu não sei de onde tirei que as cartas precisam se comunicar com os sentimentos que me atravessam em tempo real. É um trabalho, levo a sério este aglomerado de letras aqui como o restante do que faço na escrita, é prazeroso demais escrever neste espaço, mas faço com profissionalismo, ao menos é o que acho.

Estou em uma semana prolixa, dispersa. Uma vida para terminar de escrever qualquer coisa. Um parágrafo da escrita matinal e quando vejo estou pesquisando passagens na internet. Mais um e estou olhando a carteira de vacinação das cachorrinhas para ver se não estão atrasadas. Todo mês vivo esta semana produção quase zero, no meu ciclo isso ocorre após minha menstruação. Mas tem mês que é mais tranquilo e em outros, mistura a lentidão com a TPM e acredite, esta não é uma mistura boa, meu companheiro que o diga.

Para somar com esse drama todo, iniciou-se oficialmente meu inferno astral, daqui exatamente 30 dias, se minha conta estiver certa, faço aniversário e, embora eu não seja tão conectada a este mundo astral, o caos que antecede o aniversário é real aqui. Enfim, várias coisas não tão legais assim tem acontecido, além do normal do Brasil pandêmico, coisas na vida pessoal que me levaram a sentir um misto de desânimo com raiva.

Eu já tive muito medo de admitir que estava com raiva. Aprendi que esse sentimento não era bom. Hoje, vejo que é potência. Na dose errada lhe consome. Mas na dose certa, é ânimo, é o que lhe mantém em pé e seguindo em frente. Ela costuma ter esse efeito em mim. É a raiva de um sistema opressor, que fomenta a desigualdade de oportunidades que me faz não desistir, mesmo sabendo das probabilidades. Mesmo sabendo que estou colocada no lado projetado e estruturado para não conseguir.

A raiva é o que leva a mudança. Não tenhamos medo dela. É preciso direcionar. Utilizar em prol daquilo que se acredita. Somar com a esperança. E assim, quem sabe, fazer revolução.

Serei mais breve hoje. Na tentativa de entender tudo que se passava aqui dentro, escrevi um poema, a poesia sempre me atravessa quando preciso extrapolar sentimentos que não me cabem mais. Compartilho com vocês meus versos. Que seja de alguma forma força para você que, assim como eu, sente raiva, e não se envergonha disso.

Ao meu lado

Meu corpo queima
Na raiva que me acompanha
Desde quando a minha casa, era o útero de minha mãe.
Me ensinaram que seu calor não alimenta o que é bom
Acreditando, joguei cinzas e vi seu fogo apagar.
Mas as injustiças do mundo
Os silêncios impostos
E as dores acumuladas
Fizeram faíscas brotar.
Como um portal
Sua chama me chamou
A raiva é também potência
É voz, em meio ao nada
De quem a esperança se acabou.
Reacendo o fogo
Liberto meu grito
Faço o coração acelerar.
Proclamo com força
Para quem quiser escutar.
A raiva é agora companheira
Se põe ao meu lado
Como guardiã da minha existência.
Para me lembrar que é preciso coragem
Para me mostrar sua potência.
A raiva
É a palavra
Que me tomaram.

Com curiosidade e afeto,

Ana.

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