Amanhã,
Na grande roda do tempo, minha existência se aproxima cada vez mais das quarentas voltas ao mundo e, como dizem por aí, envelhecer nos traz algo além de dor nas costas e rugas. Vislumbro com uma clareza um tanto quanto assustadora a necessidade de viver processos criativos autênticos e alinhados com a minha forma de ver e viver a vida.
Junto a isso, enxergo formatos que não mais me cabem. Máscaras que não servem. Além de não possuir ajuste, apertam e machucam o corpo. E pior, afetam a minha luz. Aquilo que tenho de mais precioso: A minha capacidade de contar histórias.
Escrever é meu caminho. Encontrar o meu jeito de escrever é não me perder dele.
Nisso, aqui estou em plena segunda escrevendo um texto que pediu para nascer porque escrever sistematicamente às quintas feiras sufoca a minha alma criativa e depois de tanto tentar ser uma escritora “normal” que faz o que dizem que tem que fazer, admito numa espécie de grito de liberdade, que este não é um lugar que desejo estar.
Escrevo esse texto com tanto receio que se pensar muito, ele será jogado no limbo das minhas verdadeiras vontades. Junto a tantos outros. Assumir as partes que me compõem e que não se alinham ao que a sociedade dita como esperado é sem dúvidas, a parte mais difícil da minha escrita.
Para chegar nas palavras que me são destinadas por vezes preciso nadar contra a maré. E veja bem, nem nadar eu sei, mas me jogo, pois ficar na praia esperando o barco salvador já não é mais uma opção.
“O que a vida quer da gente é coragem”, nos diz Guimarães, aquele que subverteu a palavra e os formatos na sua máxima, escrevendo exatamente como havia de ser.
Avante amanhã, neste mar que também sabe ser calmaria, se aprendemos a confiar.
Com curiosidade e afeto,
Ana
E assim nasceu um lindo texto! Feliz aniversário, Ana! Vida longa!
❤