Não estão no topo da lista #49
Mudar a rotina, aprender a arte de não dar conta.
Amanhã,
Minhas prioridades têm mudado. Comecei o ano já alterando bastante a rotina. Numa mistura de intuição com possibilidade (criança dormindo até mais tarde), passei toda minha rotina de exercícios para o período da manhã. Logo cedinho, mais precisamente 5 horas da manhã, lá estou eu passeando com as doguinhas, depois saindo para correr e depois fazendo um treino muito doido inventado pela minha pessoa que envolve exercícios funcionais, yoga e musculação. Tudo isso geralmente feito antes da cria acordar.
Até pouco tempo atrás, não era eu quem levava as cachorrinhas para o passeio matinal, acordava neste mesmo horário, ia direto para a escrita, depois leitura e às vezes preenchia minha mandala, caso não tivesse feito no dia anterior. A rotina de exercícios ficava toda picada, parte antes do almoço, outra final do dia, mas com frequência não rolava porque as tarefas se acumulavam, a criança emperrava e eu, me frustrava.
Me exercitar tem sido absurdamente prazeroso. Sempre gostei de movimento, minha infância toda foi brincando de queimada, pular corda, pega pega, bets etc etc. Hoje vejo que sem intenção alguma, eu praticava muita atividade física desde pequena e isso se tornou uma necessidade, um hábito. Não que não seja para alguém, mas eu sinto no meu corpo a falta desse movimento quando não consigo realiza-lo de forma gritante. Sempre gostei da sensação que fica no corpo depois que o suor transborda, mas confesso que após a maternidade, tem um gostinho a mais.
Demorei um tempo para conseguir inserir essa prática novamente após o nascimento da Isis. Mais especificamente 1 ano e 9 meses. Não vou dizer que talvez pudesse ter conseguido antes, talvez sim. Mas esse foi o tempo que eu precisei para viver o meu puerpério. Até voltar a olhar para mim. Foi bonito de ver. Os laços, as curas e mudanças na nossa relação no decorrer desse período foi transformador. A retomada do meu corpo, da minha alma para viver uma nova fase, também.
Hoje, vejo a atividade física como um momento de reconexão comigo. Me sinto mais calma. Ouço com mais atenção as necessidades minhas e da Isis. Sinto que meu movimento é o meu remédio diário para as dores inevitáveis causadas pela vida. Ainda tenho um pouco em mim esse negócio de atividade física e aparência física, mas estou na caminhada para me libertar desta questão. Quero me exercitar porque faz bem e eu amo, mas isso é papo para outra carta.
Mas e a escrita matinal? A leitura? Remanejadas. Leitura a noite, após Isis dormir, e se eu não dormir junto. A escrita matinal após terminar os exercícios, banho e arrumar café da manhã. Nesse meio tempo a criança acorda, pede 4951367 coisas, muda de ideia sobre o que quer comer, depois de já ter preparado o que havia pedido, solicita uma história, a cachorra passa mal, a outra faz xixi onde não deveria, a criança bate a cabeça na parede e assim sucessivamente, bem do jeitinho que é a vida mesmo. Pauso inúmeras vezes, mas por enquanto, ainda não teve dia que a desistência me venceu.
Estou me adaptando. A escrita está breve, menos concentrada, às vezes até um peso. Escolhi minhas prioridades. A escrita matinal não foi uma delas. Saber lidar com isso tem sido um desafio. Cresci acreditando que bom mesmo é quem dá conta de tudo. Priorizar a atividade física no “lugar” da escrita matinal não deveria ser uma opção. Correto seria dar conta de tudo e ponto final. Já adoeci por conta desse pensamento e acredito que eu encontre em cada esquina uma pessoa que se identifique com esse sentimento e adoecimento devido coisas que fazemos em prol desse “tudo”.
Tenho claras minhas prioridades deste momento da minha vida. Movimentar meu corpo, estar presente para minha filha e escrever os livros que ainda estão dentro de mim. Tem mais um monte de coisas listadas? Tem. Mas não estão no topo da lista. Fiz esta escala de prioridades, como um guia. Um lembrete do que considero mais importante hoje. Para não me perder, não colocar coisas que não desejo na frente, não mudar o foco para agradar alguém. Pode ser que semana que vem esta lista mude. Mas hoje é nela que quero me concentrar e para isto preciso me lembrar que outras coisas serão feitas de forma diferente, talvez nem sejam feitas ou quem sabe, reinventadas.
Certamente irei falhar miseravelmente alguns dias. Pode ser que a escrita matinal não fique da forma que gostaria durante um bom tempo. E está tudo bem. Priorizar é isso. Deixar outras tarefas que também lhe são preciosas para depois. Fazer meia boca. Não dá para abraçar o mundo e eu, nem tenho mais esta intenção. Ainda me pego ansiosa por não fazer tudo que gostaria mais vezes do que gosto de admitir. O processo de mudança é lento. Mas ele existe. E eu quero encontra-lo.
Com curiosidade e afeto,
Ana.
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