Não sei exatamente sobre o que é esta carta #75
Um mês com 54564 dias, entrega, teimosia e palavras sem muita coesão
Amanhã,
Comecei a escrever sobre o que realmente me levou à escrita, qual foi meu guia invisível, coisas que andei descobrindo muito recentemente. Não consegui terminar o texto. Queria escrever sobre espaços públicos, a quem pertence, quem pode ocupa-los? Não saiu uma palavra.
Resolvi me entregar. Assumir meu cansaço. Ando catando palavras feito galinha comendo milho. Uma a uma, sem conseguir engolir mais que duas de uma vez. Não sei exatamente sobre o que é esta carta. Sei apenas que é, sem dúvidas, uma carta de alguém que não conhece seus limites. Mas desconfia que anda ultrapassando-os.
Um mês de poucas horas de escrita. Muito trabalho acumulado e um rio de emoções me esperando para serem reguladas. E não, não estou falando das minhas. Essas eu vou enfiando tudo para dentro porque não há tempo. Aliás, esta é a frase do século. Não há tempo. Em um ritmo insano tento sanar as pendências. O corpo cada vez mais lento.
Desta vez deixei de culpa-lo. No lugar dele, também estaria pedindo clemência. Em constante atividade, tenta deixar alguma energia para os neurônios que insistem em sobreviver. Sem muito sucesso. Quando ambos se encontram, o resto não acompanha.
Teimosa que sou, insisto. Sem êxito. Aquela voz que vez ou outra fala comigo, sussurra (ou grita, quem vai saber). Descansa. Qual a possibilidade de descanso com uma lista infinitas de tarefas, por fazer, e ainda por cima atrasadas? Isso deveria ser impeditivo? Gente exausta lá faz alguma coisa? Sim, escreve cartas sem nexo com tons melancólicos.
Este é o máximo que dá para fazer no modo exaustão, constato por fim.
Com curiosidade, afeto e cansaço acumulado,
Ana.
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Embora os neurônios estejam acamados e o corpo quase off, estamos aí na atividade. Hoje será o primeiro encontro do Dialeto Materno e quis compartilhar isso aqui porque está muito lindo o trabalho que tenho feito junto com minha sócia querida Fernanda Misumi. Em breve iniciamos a leitura do livro de agosto, semana que vem falo um pouquinho dele por aqui.
Não sei exatamente sobre o que é esta carta #75
Eu, que tenho 42 anos, esses dias estava pensando: "Se eu for esperar estar descansado, bem disposto, sem dor nas costas ou sem a gastrite atacando, pra fazer algo.... eu não faço mais nada!" haha Então amanhã tem um show que eu queria ir, e vou mesmo assim, com dores e tudo. rsrs
que texto bonito e verdadeiro, minha amiga. desejo que um dia todas nós possamos descansar exatamente como merecemos s2