O mais difícil foi a panela de pressão

Os fragmentos que rondam o final de um relacionamento, feito um achador de mosaico, parecem ser para mim uma espécie de enigma, altamente indecifrável.

Amanhã,

Os fragmentos que rondam o final de um relacionamento, feito um achador de mosaico, parecem ser para mim uma espécie de enigma, altamente indecifrável. Sim, alguns motivos são aparentes, mas as camadas que permeiam o todo vão além dos olhos, do inconsciente saem, mas muitos se vão, sem passar pelo plano do consciente. No fim, é história, nem sempre possível de contar.

Nos últimos dias do ano voltava para casa com minha filha no entardecer quando avistei um senhor que mora no mesmo condomínio que a gente cambaleando a algumas quadras de casa. Desacelerei o carro e, pensando em como ele conseguiria andar tal distância naquele estado, parei. Ele, surpreso pelo ato, aceitou a carona.

Não puxei nenhum assunto, primeiro porque não havia absolutamente nada que achasse realmente relevante de ser falado naquele momento e segundo porque, embora não visse nele nenhuma ameaça, motivo pelo qual parei, também não achei apropriado estreitar ali um laço inexistente.

Eu sabia da história. Sua mulher foi embora em meados de 2022, encontrava com ela e o cachorro todas as manhãs durante a minha corrida, ele fazia uma festa e tanto. Senti falta quando se foi. Dela, e do cachorro. Sabia que ele bebia e talvez tenha sido este o motivo da separação. Ou não. O fato é que não sei muito, exceto que o cachorro gostava de mim e que ele, ficou sozinho.

Perdida em meus pensamentos em meio aquele penetrante odor de bebida, ele diz “O mais difícil mesmo foi aprender a usar a panela de pressão, como é difícil fazer isso”. Dei uma resposta qualquer que já não me lembro, mas a vontade mesmo era de dizer que talvez ele devesse ser poeta. Afinal, quem sabe manejar bem as panelas de pressão da vida?

Fiquei com esta frase martelando. Coincidentemente, ou não, isto ocorreu dias antes do pino da minha panela de pressão explodir. Os buracos, aqueles construídos pelo desgaste, ressentimentos, transformações. Tudo que não é evitável. Os caminhos se bifurcam e o pino, se rompe, a panela não funciona mais. É preciso encontrar outro jeito de cozinhar.

Das dificuldades de uma separação, acho que o mais difícil são as pequenezas. Dizem muito sobre tudo aquilo que foi, mistura bom com não tão bom assim. É história, marcada na pele, escrita na estrada que já pisou. Das minucias menores, a panela de pressão e sua tamanha complexidade, se fazem grande, assumem importância maior e fazem do caminho a frente, coisa boa de pisar e se estender.

Com curiosidade e afeto,

Ana  

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Se você é da região de Campinas (e porque não, São Paulo), vem para Jaguariúna sábado, dia 11/02 me dar um abraço ao vivo! É dia de celebrar minhas 37 primaveras e também colocar no mundo as palavras com Ísis e a Saudade. Só vem.

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E por último, gostaria de dizer que semana passada rolou o encontro A literatura e as mulheres e foi tão, mas tão bacana que eu e Fernanda Misumi resolvemos repetir a dose (e porque não? fazer sempre), então, se você se interessa em participar de um bate papo sobre literatura e o espaço que as mulheres ocupam nela, me manda um oi por aqui, escreve lá no Instagram, manda e-mail, sinal de fumaça, enfim, me avisa. É gratuito, via teams, sem pauta fixa e aberto para todo mundo falar e somar junto.