Cartas para o amanhã

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O que encontrei no meu lixo #07

anamargonato.substack.com

O que encontrei no meu lixo #07

Ana Margonato
Feb 25, 2021
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O que encontrei no meu lixo #07

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Amanhã,
 
Da para misturar arte com lixão?
 
Essa é a pergunta implícita que o artista plástico Vik Muniz nos faz logo no início do documentário Lixo Extraordinário. Recheado de histórias tristes, desigualdade social e muita miséria, Vik nos leva a olhar não só para o lixo, mas para as pessoas, de uma forma diferente.

Sem romantização da pobreza, as obras criadas por ele com a ativa participação de alguns trabalhadores do próprio Jardim Gramacho (local onde todo material foi retirado), traz em sua composição a mistura de tantos sentimentos que é difícil não se emocionar. A arte costuma ter esse efeito, lhe faz refletir, ir longe, associar coisas, e quando além de tudo isso há sentimentos ambíguos como elemento central, mexe lá no fundo e gera incômodos até então ocultos.

Decidi explorar mais a fundo o que tudo isso reverbera em mim, tão acostumada a muitas vezes separar o belo do feio, a alegria da tristeza, a riqueza da pobreza que misturar tudo isso parece em certos momentos errado, mesmo sabendo que faço isso com mais frequência do que sou capaz de observar.

Como pode o retrato de alguém desenhado com lixo, sujeira e tudo mais que associamos como algo que deve ser descartado ser tão belo e ao mesmo tempo dizer tanto sobre nós? Quando olho para as obras que surgiram desse trabalho vejo a exuberância da arte dentro do que consideramos sujo, portanto, imperfeito e é aí que encontro a beleza disso tudo, não há certo, não há errado, não há belo ou feio, as coisas são o que são e isso, mesmo que assuste, pode ser o bastante.

Tenho feito um movimento muito grande na minha vida sobre o julgar, rotular com o meu olhar o que vai para além de mim sempre foi muito presente na minha história e já faz um tempo que tenho observado o tamanho da complexidade que é olhar para a vida e achar que posso decidir o que é certo ou errado, existe realmente algo que seja 100% um ou o outro? Há tantas nuances, histórias, pontos de vista e formas de interpretar a vida que não vejo mais a possibilidade de entender pelo outro o que cabe ou não.

Talvez por estar nesse processo de mudança no olhar, este documentário tenha me tocado tanto, ver beleza naquilo que está fora da métrica, que vai além do convencional é uma forma de expandir a visão, não apenas para o externo, mas para si, afinal, o meu julgamento sempre começou em mim mesma, abraçar as minhas imperfeições e olhar com afeto para tudo aquilo que me desagrada é a parte mais difícil disso tudo.

Olhei para o meu lixo, nem todos são recicláveis, porém, todos possuem histórias, marcas, cicatrizes e, embora a ideia seja o descarte, muita coisa ainda é passível de uso e outras talvez nem sejam realmente lixo, foram descartadas porque não cabiam, porque não pareciam belas e não se encaixavam nas caixas que lhe foram dadas para caber.

Olhei bem no fundo e percebi que do meu lixo, podem surgir belas obras de arte.

Já pensou nisso, o que pode ser encontrado no seu lixo?
Me conta!


PS1: Se depois de ler tudo isso ficou com vontade de assistir o documentário, você encontra ele na Netflix.
PS2: Se já assistiu ou pretende assistir, me conta quais foram suas percepções, vou adorar conversar com você sobre tudo isso.

Com afeto e curiosidade,

 
Ana.
 
 
 

Me encontre em outras redes: https://www.umcontocontadopormim.com.br/ https://www.instagram.com/umcontocontadopormim

Para ler as edições anteriores:https://tinyletter.com/anamargonato/archive

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