O que o silêncio diz sobre você? #01
Querido amanhã,
Dizem que se você deseja muito algo, isso se torna realidade. Eu não sou tão entusiasta assim da realização de desejos de forma tão mágica, mas confesso que, estar aqui hoje, escrevendo esta carta para você é a realização de um grande desejo, me comunicar, de forma genuína, levando um pedaço de mim para quem quiser ler e se possível for, construir algo de bom a partir disso. Criar um amanhã que vala a pena ser vivido.
Seguindo bem na controvérsia da comunicação, quero nessa primeira carta falar sobre o seu oposto (ou não), o silêncio. Dias desses fui a um consultório dentário, conversei tanto com a dentista antes do procedimento que ela se viu curiosa de qual seria minha profissão “com perguntas tão assertivas", segunda ela. Me senti animada, afinal, em tempos pandêmicos, sair de casa, sem criança e ainda conversar com um estranho soa até como O DIA PERFEITO.
O procedimento começou e eu, por óbvio, precisei ficar em silêncio. Ela iniciou uma conversa com a assistente sobre pessoas aleatórias, surgindo o tema maternidade. Logo que ouvi os primeiros comentários à língua já se remexeu (no sentido figurado claro), depois o segundo, no terceiro, eu já estava suando frio pelo simples fato de que não podia me pronunciar. Depois de um tempo o incômodo estava tão grande que precisei me desligar do externo e ter aquela conversa comigo mesma.
Analisei todas as respostas que gostaria de ter dado, todas as palavras que queria ter proferido e percebi que não havia garantia alguma de que todo aquele discurso montado na minha cabeça servisse de algo, o intuito era convencê-las de que aquilo era simplista? Que elas estavam erradas? Onde queria chegar com a minha fala?
Percebi que, embora minhas intenções fossem genuínas, eu só queria falar. Isso me afetou profundamente, vi minhas dores sendo expostas, minha invisibilidade por tantas vezes constatada. Não era sobre elas e a visão que tinham da maternidade, mas como eu me sentia ofendida por não poder falar o meu ponto de vista.
Questionei-me sobre a fala, sobre o silêncio, sobre a complexidade de ambas as ações. Como saber se o que estamos falando impacta no mundo e gera mudança ou é apenas um monte de palavras soltas que querem sair. Não tenho respostas, apenas perguntas, que me levam a outras.
O silêncio faz mais barulho que palavras sendo proferidas entusiasticamente, pois fala de dentro, acorda fantasmas, remexe sombras e desperta perguntas tão difíceis de serem feitas, quanto respondidas. Mas também é refúgio e costuma trazer consigo calmaria, depois que a tempestade passa.
O silêncio diz coisas sobre nós que só é possível ouvir se parar para escutá-lo. Espero criar mais laços com o silêncio e que ele faça parte do meu eu do amanhã.
O que o silêncio diz sobre você?
Me conta?
Um abraço apertado,
Ana
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