Cartas para o amanhã

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Odeio cropped, antes que me sugira um ok #58

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Odeio cropped, antes que me sugira um ok #58

Desculpa se esperava uma carta inspiradora esta semana.

Ana Margonato
Mar 24, 2022
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Odeio cropped, antes que me sugira um ok #58

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Amanhã,

Ando uma guerreira cansada. Tão cansada que cansei de dizer que estou cansada mas digo mesmo assim porque ao menos neste espaço aqui tenho tentado ser honesta comigo mesma. Odeio cropped, antes que me sugira um ok. Eu sei que reagir não é uma questão de opção, é realidade mesmo. Com cropped ou sem a vida segue, o barco zarpa, e na maioria das vezes não espera ninguém catar caquinhos para fazer mosaico bonito não.

Nesse movimento, a gente segue andando enquanto ainda tenta se levantar, respira ofegante porque não há tempo para aquele inspira e expira de qualidade. Tudo vira atropelo, coisas demais para dar conta de uma só vez. A energia vira desânimo, que vira cansaço em níveis elevados. Uma coisa leva a outra e nessa de não conseguir pausar nada porque tudo segue, a gente pausa mesmo é a vontade de viver com gosto.

Desculpa se esperava uma carta inspiradora esta semana. Todo mundo anda precisando de uma fada sensata que fala coisa bonita e deixa aquele ar mais leve não é mesmo? Eu não tenho sido esta pessoa. Mas finjo ser. E finjo bem. Posso estar um caco, se alguma amiga passa por algo difícil, eu sempre jogo no lixo a minha necessidade de introspecção e coloco o sentimento dela na frente do meu. Simples assim. Digo que estou bem e faço o que acho que uma amiga deve fazer.

Me dei conta disso não faz muito tempo. É que começou a incomodar. Fingir começou a ficar mais difícil. O dilema entre eu x a pessoa passou a existir. Os pedaços meus levados neste movimento passaram a me fazer falta. Os buracos que ficam quando não há respeito no próprio processo passaram a ficar evidentes. E acredite, são crateras bem fundas.

Conto isso aqui porque sei que a identificação existe. Mulheres são socializadas para serem cuidadoras. Se doar é aplaudido. A ‘guerreira”, tão citada nos cartazes do 8 de março espalhados por tantas repartições públicas e empresas indica uma coisa só. Dê conta! Porque é isso que uma guerreira faz. Não importa os pedaços que vão ficando pelo caminho. Aquele caminho que a gente faz andando enquanto ainda está se levantando.

Não tenho uma lição, dica, ou experiência de como passar por tudo isso e sair ilesa simplesmente porque eu ainda estou neste lugar. Na posição de profundamente incomodada, mas ainda sem coragem de fazer o que realmente sinto que devo fazer. É complexo. Somos seres complexos, o que é meu e o que é do outro se misturam com frequência e encontrar meu Norte às vezes leva tempo. É sentir e tentar andar ao mesmo tempo torcendo para não cair, de novo.

Sigo andando enquanto levanto. Só que agora, eu também escrevo sobre o caminho. E isso muda muita coisa.

Com curiosidade e afeto,

Ana.

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