Amanhã,
Tenho uma lista de vários “textões” anotada no meu caderno. Semana passada me ocorreu mais um tema e jurei a mim mesma que seria o foco desta edição. Mas sabe, às vezes o brio necessário para falar de temas como “as violências diárias da vida de uma mulher que não é mais colocada sob a “proteção” masculina” não chega e me vejo obrigada a usar da minha mais singela sinceridade: Não ando querendo falar sobre nada.
Não me entenda mal, amo lhe escrever, as trocas que acontecem a partir das cartas que lhe escrevo são muitas vezes parte importante da minha semana. Refletir é minha praia, em grupo, alimenta minha alma. Ainda assim, tem dias, semanas, (meses?), que nada do que digo parece ser realmente relevante. Aquele momento em que olha para suas palavras e pensa “não iria mudar nada no mundo se elas não estivessem aí”.
Eu sei, eu sei, sou um tanto quanto dramática. Drama a parte, reflito muito sobre a utilidade da vida, a minha presença aqui neste planeta em colapso climático. Escolhi (ou não) a escrita como meu propósito de vida e com uma frequência bem maior do que sou capaz de admitir, me sinto falhando miseravelmente na missão.
As redes sociais podem estar colaborando? É provável. A comparação é inevitável, meu projetinho suado parece minúsculo perto de tantas pessoas e ideias. As pequenas vitórias nem parecem dignas de comemoração diante de tão mais do outro. E uma verdade meio indigesta: Saber que nada disso é real (afinal, rede social é bem mentirosinha) não é o suficiente para levar embora o sentimento de inadequação e fracasso.
Aquele lance da socialização. Mulheres em especial, sempre treinadas para se diminuir diante do mundo. Vai se achar a poderosa na rede social? Pouco provável. Sinto as vezes como se o bonde da autoconfiança passasse sempre na minha rua, e eu perco o time, em quase todas as oportunidades.
Rede social é só um mero exemplo, claro. Não se sentir merecedora de ocupar espaços é quase sinônimo quando se é mulher. Criamos meninas boazinhas, colaborativas, cuidadoras, sorridentes e que se sentam de pernas fechadas, esperando que sejam elas adultas desbravadoras, corajosas e seguras (muito seguras) de si.
Falar sobre tudo isso pode não ser o suficiente para, de alguma forma, ocorrer uma quebra neste padrão. Juro que tento com todas as forças não me colocar neste lugar do menos. Porém, na versão real da vida, se vocês mesma não se encolhe, a sociedade vem e faz isso por você. Sem ninguém pedir. Sem ninguém questionar se está certo isso. Para pegar o bonde é preciso atravessar muitos pântanos antes e por vezes ficamos por ali mesmo, atoladas até o pescoço.
Sinto que esta não é uma carta motivacional pós 08 de março. Ou talvez seja, se pensar que as dificuldades enfrentadas pelas mulheres em muito se assemelham e falar sobre os brejos que se colocam na nossa frente é de alguma forma, uma tentativa de secá-los, transformando-os em terra firme.
Como não ando muito amistosa com a minha própria escrita, sinto estar falando aqui obviedades já constatadas, em especial, pelas mulheres. Caso seja também um incomodo seu, mesmo que obvio, esta tremenda inabilidade em lidar com as inseguranças em decorrência de uma socialização absurdamente opressora, não me deixe sozinha neste papo não tão elaborado assim.
Ando perdendo o bonde, porém, ainda continuo, não somente tentando correr atrás dele, mas principalmente na busca por não mais precisar alcança-lo.
Com curiosidade e afeto,
Ana
Bem subversiva que tento ser, vamos divulgar um trabalho bem lindo aqui?
Primeiro porque é uma oficina com elementos expansivos e na minha opinião muito interessantes de se explorar diante desta realidade tão preto no branco que vivemos e segundo porque vocês tem desconto usando o cupom: NEWSLETTER
Dia 25/03 das 09hs às 11hs iremos realizar a oficina: A poesia dos seus olhos.
A proposta da oficina é trazer elementos poéticos, seja da literatura ou das artes em geral, apresentando inúmeras maneiras de enxergar a vida com poesia. Através de uma aula expositiva com proposta de exercícios, os participantes são levados a praticar a percepção da poesia ao seu redor.
Esta oficina é destinada a qualquer pessoa que queira enxergar a vida de forma mais poética.
Muito me identifico, Ana. E como cansa ir atrás desse tal bonde. Me pergunto até se ele existe, se passa ou se é a gente que tem que construir.
Me identifico. Cozinho diversos textos no rascunho, que acabam não sendo publicados. Diversos pensamentos, pontas soltas, esperando ligação com outras coisas (talvez mais profundas) que não vêm... E morrem por ali, por eu não confiar totalmente neles ou talvez por não acreditar que eles são só isso mesmo: fragmentos. As redes sociais nos fazem acreditar que precisamos ser mais e melhor o tempo todo. Que cansativo, né?