Quem olha para esses detalhes? #86

Histórias são as minucias, coladas no grande mosaico da vida.

Amanhã,

Tempos atrás escrevi muitas crônicas sobre episódios importantes da minha vida e tinha como intenção publicá-las em um livro. Vida seguiu e a vontade de publicar se foi, muitas das crônicas cavaram fundo aqui dentro e não me senti mais confortável em “dividir com o mundo” tudo que contei naquelas páginas. Mas as crônicas ficaram, naquele emaranhado de lembranças, narradas sob minha ótica, da forma que eu vejo a vida que vivi ou criei.

Durante esse ano dividi algumas com minhas apoiadoras do Catarse no Boletim mensal e comecei a me observar, ali naquele enredo vivenciado e contado por mim. Amo ler sobre a vida das pessoas, livros autobiográficos tem um lugar especial na minha biblioteca. Mas ler suas próprias histórias é habitar dois lugares distantes simultaneamente, o de quem conta e de quem ouve. Uma mistura quase que fadada a suspeição.

As crônicas nasceram de uma vontade não explicável de colocar muitas vivências no papel. Tirar de dentro de mim todas aquelas memórias e transforma-las em algo que compõe um todo. Sempre contei algumas dessas histórias para amigos e quase como um coro ouvia de muitos “você precisa escrever um livro sobre sua vida”. Tudo isso antes mesmo de sequer passar pela minha cabeça a ideia de ser escritora. Os detalhes são o brilho de toda história. Coisas que já estavam lá, mas que só se consegue ver se olhar com certa distância, com vista ampla para o enredo todo.

Hoje vejo que escrever sobre a minha história foi uma forma de assentar em mim crenças que sempre fizeram parte da minha essência. Todo episódio tem um começo. Aquela escolha que fez muitas vezes sem atenção, que te levou a tal lugar, em determinado horário e lá aconteceu algo que deu início a um novo rumo em sua vida. Uma simples escolha casual, responsável por desencadear mudanças muitas vezes gigantescas e porque não, transformadoras.

Quem olha para esses detalhes? Dia desses fiz uma retrospectiva para chegar no evento inicial que instaurou o meu encontro com a escrita, aquele evento chave que foi criando um efeito dominó, até chegar nos finalmentes, no caso, eu escritora.

Voltei tanto no tempo que me surpreendi ao constatar que tudo começou com a minha decisão em participar de um grupo de meditação guiada no parque da cidade, em um domingo qualquer. Poderia ter ido dormir (nem sonhava em ser mãe ainda e esta possibilidade era viável), mas fui meditar. E o resto, transformou-se em uma longa e interessante história (ao menos eu acho) sobre grandes viradas, mudanças, medos, alegrias e o novo se apresentando com entusiasmo.

Não sabia porque amava tanto ouvir histórias. Hoje sei que amo mesmo os pormenores, o que deixa a vida sujeita as mais diversas surpresas. A possibilidade de me encantar com um enredo que ainda não conheço. A chance de me entregar ao que não controlo, apenas observo e com sorte, mergulho.

Histórias são as minucias, coladas no grande mosaico da vida. Esperando ouvidos que queriam decifrar sua composição.

Com curiosidade e afeto,

Ana.

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Pessoas queridas de São Paulo, este final de semana estarei na Livraria Mandarina mediando um bate papo no evento de lançamento do livro da minha querida amiga sócia Fernanda Misumi. Venham prestigiar este evento e claro, me dar aquele abraço. Aguardo vocês lá!

As inscrições para participar do Dialeto Materno este mês se encerram semana que vem. Quer ler As alegrias da maternidade conosco? Então corre e garanta já sua vaga. Esse livro certamente renderá um belo de um encontro.

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