Traduzida em palavras #04

Amanhã,
Perguntei-me tantas vezes porque escrevo que já não sei se caberia em apenas uma carta todos os motivos. A escrita chegou a minha vida cedo, embora eu a negasse com fervor, escrevia poemas, tirava altas notas em tudo que estava ligado à escrita, redação, provas discursivas, e mesmo recebendo todos os sinais do universo que era algo que eu devesse me atentar, neguei.
Não porque não gostasse, mas porque não via a escrita como uma via possível, escritor pra mim era aquela pessoa rica, com tempo sobrando que, tomada pelo tédio, resolve escrever sobre suas vivências exuberantes, levando todos àqueles que não passam nem próximo dessa realidade, lerem seus escritos com fervor e inveja, resultando-lhe fama e mais dinheiro no bolso.
Não que esse perfil não exista, tem aos montes e a internet está ai para provar, mas a questão é que eu não tinha referência de escritoras e escritores que tivessem uma vivência ao menos parecida com a minha, por isso achei mais que prudente deixar de lado qualquer ideia que envolvesse escrita como uma forma de vida e segui rumos contrários.
Mas a vida né amanhã, haaa a vida, ela vai te pegando pelas beiradas, dá uma cutucada aqui, um empurrão ali e quando é pra ser de verdade, só não vê se não quiser mesmo. Falando assim até parece que sou uma escritora que após atingir o sucesso, fala sobre o caminho trilhado até chegar ali, no topo. Mas não se trata de sucesso apenas, e sim ter o propósito abraçado, agarrar aquilo que escolheu como pulsar da vida.
Certamente que sucesso tem lá seu gostinho de “eu te disse”, pronunciado pela vida, assim como propósito tomado pra si é potência. Quando aceitei que a escrita era parte intrínseca de quem eu sou, o resultado de tudo passou a ser menos importante que à jornada.
Escrevo porque me vejo em minhas palavras, me entendo depois que me coloco no papel, traduzo sentimentos e confesso meus piores segredos com papel e caneta na mão. Por muitas vezes não quero escrever, não porque não saiba o que dizer, mas porque sei que, uma vez colocado no papel, eu não posso mais fingir que aquilo não me pertence.
Joan Didion me traduz quando diz: “não sei o que penso a respeito de algo até escrever sobre o assunto”. A escrita me desnuda, me transpõe e leva embora qualquer resquício de isenção que poderia ter, me deparo com meus posicionamentos, pensamentos, doces e amargos, não se é permitido fugir, apenas o que me atravessa e saí translucido do outro lado, no papel.
Escrevo amanhã, assim como respiro.
A todos que me leem uma pergunta: Como minha escrita atravessa você?
Me conta!
Com amor e afeto,
Ana.
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