Um emaranhado de coisa alguma #89
Um misto de lamúria com divagação.
Amanhã,
Esta é a terceira carta que lhe escrevo esta semana. A segunda escrevi a mão, em um café de frente para árvores belas e enormes. Achei que a mudança de ares fosse me ajudar a encontrar as palavras raptadas. Escrevi umas seis páginas, mas a conexão não aconteceu, as palavras que procurava não estavam ali e não havia nada que pudesse fazer a não ser admitir minha derrota.
Desisti. Ao menos por hora, de tentar encontrar o que talvez precise de tempo para retornar. Estou cansada. Um cansaço que de tempos em tempos se acumula e quando penso que aguento mais um pouco, a exaustão chega sem pedir licença e sequestra o que me é mais caro. Minhas palavras.
Tentei falar sobre o Brasil e tudo que foi e está sendo esta semana. Sem sucesso. Depois escrevi uma gigante carta sobre a arte de ignorar as pessoas no mundo virtual como se fossem elas máquinas, sem necessidade de uma resposta. Este tema está comigo já faz um tempo, tenho me incomodado com a forma como nos comunicamos virtualmente, a normalização em simplesmente deixar alguém no vácuo como se aquela mensagem nunca tenha chegado e o outro, jamais existido. A carta ficou péssima, mas ainda volto com este tema quando das palavras me apossar novamente.
Os assuntos estão aqui, mas o desalinho de uma cabeça e corpo exaustos não os alcança. Eu sei, isso tem acontecido com muitas pessoas, mas saber que faço parte de uma grande massa cansada de tantos eventos que parecem não ter fim não tem sido um grande consolo para mim. Eu queria dar um jeito nisso tudo, me livrar desta exaustão, sentir meu corpo em pleno funcionamento. Talvez o descanso em altas doses fosse capaz de trazer a cura, mas eu só o tenho em doses homeopáticas, o suficiente para apenas continuar funcionando.
Sim, esta carta é um emaranhado de coisa alguma. Um misto de lamúria com divagação. Me desculpe se esperava algo mais interessante amanhã, mas esta foi a minha melhor versão nesta semana e isto há de ser alguma coisa.
Com curiosidade e afeto,
Ana.
Leia também:
As inscrições para o livro de novembro estão abertas lá no Dialeto Materno. Iremos ler A filha primitiva da querida Vanessa Passos, o encontro contará com a presença ao vivo da autora para um bate papo pra lá de interessante.
Venha participar conosco!
Eu costuro meus próprios caderninhos, nos quais escrevo compulsivamente. De tudo que escrevo, talvez publique vinte ou trinta por cento. E mesmo essa pequena quantidade nunca fica tão bom quanto eu gostaria. Mas continuo escrevendo por questões terapêuticas.
Tem semanas que a minha escrita fica exatamente assim. E quando eu começo a editar os textos eu começo a “desescrever” e termino sem nada. É esquisito mas eu aproveito também esse processo de desescrita porque o movimento é o que mantém a 🔥 criativa acesa. Beijo!