Assim como eu, ela gosta do mistério #173
As ramificações do que é ser uma pessoa repleta de criatividade e fantasmas.
Amanhã,
Reflito sobre os acontecimentos que compartilho nestas cartas com tanta profundidade que já descartei muitos textos, com medo de que minhas confissões fossem intimas demais. Que compusessem elementos capazes de gerar no outro, certa aversão ou até mesmo a quebra abrupta da persona construída sobre minha imagem, a partir das muitas histórias contadas, as quais transitam entre verdade e imaginação.
Quais partes? Por vezes, nem mesmo eu sei.
O perigo de estar lúcida de Rosa Monteiro me levou a navegar águas conhecidas, e também estranhas. Certas manias se tornam normais se emparelhadas ao lado das tantas outras contadas sobre diversos artistas. Fatos traumáticos ocorridos na infância parecem seguir um certo “requisito” obrigatório na vida de quem foi destinado a escrever. Rosa humaniza as ramificações do que é ser uma pessoa repleta de criatividade e fantasmas.
Fazer a seleção do que adentra no seu rio de palavras é que são elas. O que pode ser narrado de si? O que cabe ser colocado no esquecimento? O que escrever, porém nunca publicar? A quem recorrer quando o medo toma conta e lhe confisca todas as histórias?
Rosa me encanta porque, assim como eu, ela gosta do mistério. Mais que isso, vê nele a possibilidade de real entrega na escrita. A necessidade de sua presença. Nisso, o medo, embora tenha suas funções necessárias, torna-se um grande problema. Estende-se para além de seu território, bloqueia o fluir das palavras junto daquilo que não se explica, apenas é.
Gostaria de dizer que, contra o medo, há um antídoto. Mas a verdade é que eu não conheço nenhum e, sendo bem sincera, acho pouco provável que outro escritor tenha esta informação. Contra ele, o engenhoso medo, tenho usado a ferramenta mais rupestre de todas, a tão conhecida: Coragem. Aquela que não costuma pensar muito sobre, apenas vai, desbrava os caminhos, foca no que importa e desliga a função vergonha/importar-se com a opinião alheia.
E assim, meio que por obra do destino, e um tanto de teimosia, tenho escrito, não pensando um minuto sequer, em desistir.
Com curiosidade e afeto,
Ana
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Na próxima semana enviarei uma carta para apoiadoras falando um pouco sobre minhas leituras atuais, obsessões literárias do momento e tudo mais que consequentemente vem junto com este vasto universo das histórias e palavras.
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e haja teimosia haha sigamos Ana, obrigada pela edição