Amanhã,
A letra por vezes sai ilegível. Alinhar pensamentos e as mãos, sem dúvidas a maior dificuldade. Quando comecei a escrever no meu caderno diariamente eu pulava palavras, as mãos se atropelavam. Eu não percebia, constatei isso apenas tempos depois, quando resolvi reler meus primeiros cadernos. Hoje em dia, após anos escrevendo diariamente com as mãos, consigo perceber as inquietações já na primeira frase. Nosso corpo é fantástico, se comunica com cada um ao seu modo. O que nos resta, é ouvi-lo.
Escrever manualmente foi o processo de aprendizado mais profundo que tive dentro da minha carreira de escritora. Não imaginava o tamanho das mudanças internas que esse pequeno grande ato diário traria. Brinco que escrever diariamente é como aprender a bordar. Leva tempo para pegar o jeito e, quando isso acontece, tem uma visão ampla de todo trabalho ao observar os pontos feitos e como eles se conectam entre si.
Assuntos se repetem. O caderno parece ligar lanternas em certas frases, te mostrando que aquela questão ali, precisa ser observada mais de perto. A velocidade é a grande chave. Sua lentidão é o que nos permite assistir a dança das palavras, enxergar seus passos, parcerias e como no fundo, o que ela está fazendo, é a coreografia da sua vida. Dançando, lhe mostrar as delicias, as dores e as camadas que se abrigam entre elas duas.
Comecei a escrever sem saber a razão. A ideia da escrita diária chegou até mim pela internet e, sem pensar sobre, comprei um caderno e escrevi. Senti que algo desconhecido se movia, ao encontro de outras coisas que tão pouco conhecia. O mistério, em parte se desvenda, em parte se multiplica. Acredito que se entregar ao mergulho da palavra é também se abrir para o mágico, o que não se nomeia, nem se pode nomear.
Escrever é entrega. Escrever com as mãos, é entrega de corpo inteiro.
Com curiosidade e afeto,
Ana
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O Nós - Laboratório de escrita começa em breve e já temos divulgado o tema de fevereiro. Um fio condutor, que auxilia na tecelagem da grande colcha de palavras. E, para começar já com tudo, vamos saltar no poço dos desejos. Escrever a partir dos nossos quereres mais profundos.
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Semana que vem, lua minguante, momento de introspecção e uma escrita mais profunda, será o momento de enviar a edição especial para apoiadoras. Neste mês quero partilhar alguns conteúdos preciosos que chegaram até mim e, claro, entrelaçar essas experiências com a escrita e outras vivências que chegam junto. Tudo se conecta e, se a gente se abre para esta percepção, coisas novas se apresentam a nós.
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Esse texto traduz sentimentos meus ❣️
Até hoje me pego comendo palavras enquanto escrevo à mão, é um caminho de reintegração com o todo...essa mão que fala num outro tempo da cabeça. Adorei a reflexão, me fez rever com detalhes, meus gestos 💜