Amanhã,
Terminei de assistir no final de semana a primeira temporada de The Last Of Us. Fazia tempo que não assistia uma temporada inteira de alguma série. Ando racionando o tempo destinado a entretenimento por motivos de cansaço mesmo (ou nem raciono, durmo logo nos primeiros dez minutos hahaha). Mas esta série me fisgou. Deve ser coisa dos Us da vida, já que sou muito fã de This Is Us também.
Aliás, me vi analisando ambas e encontrei ali similaridades que não esperava encontrar, afinal, a premissa de This Is Us é um enredo que aborda a dinâmica familiar intergeracional enquanto The Last Of Us é uma série baseada em um jogo, na qual os personagens vivem em um futuro distópico apocalíptico em que a terra foi dominada por um fungo que transforma as pessoas em uma espécie de zumbi. Definitivamente não parece haver aí qualquer relação. Mas tem, e muita. Ambas, ao seu modo, trabalham o silêncio, o não dito e a construção de relações a partir desses espaços.
Tenho por mim que este é ponto que mais cria laços entre o telespectador e a trama. Aqui, no mundo real, os espaços de silêncio e afastamento pelo não dito, não compartilhado nas relações são pouco discutidos, olhados. Porém, não deixam de existir, criar desconfortos e principalmente, transformar relações. O que seria a arte senão uma grande extensão de nós?
Esta não é uma carta resenha. Muito menos comparativa, com pontos altos e baixos de ambas as séries. Foco aqui neste elemento que ao meu ver é bastante central. As relações humanas, como elas se desenvolvem e quais os caminhos que podemos trilhar posto as reflexões trazidas em cada enredo. Seja num mundo pós apocalíptico ou não, nossas relações existirão e os silêncios e mentiras (ou não) que as compõe dizem muito de quem somos e de quem temos/queremos ao nosso lado.
Claro que tem as marmeladas, como qualquer enredo criado para fazer sucesso, mas no caso de The Last Of Us temos também Pedro Pascal, então, tudo perdoado né gente. Eu que já tinha minha paixão por ele em Mandaloriano, me arrebatei de vez, até mesmo porque a parceria dele com a Bella Ramsey (que já dava um show de atuação lá nas terras geladas dos Starks) é realmente inspiradora.
Talvez esta carta soe um tanto quanto estranha, acho que nunca escrevi alguma edição que trouxesse referências do mundo audiovisual. Ando me permitindo falar mais sobre coisas do meu interesse, que me atravessam de alguma forma sem pensar se isto vai soar “inteligente” ou não. Apenas ser mais eu. Para me encontrar mais nas relações que construo. Para ver mais de mim no mundo que me cerca. Aliás, está aí um tema que me ronda: Quem decide o que é inteligente? De quem é o filtro do que é bonito de se falar ou não?
Antes que esta carta vire uma verdadeira salada mista de emoções, retomo ao tema central. Joel (Pedro) e Ellie (Bella) criam uma relação a partir do não dito e, no decorrer da trama vão entendendo (seja por necessidade ou de forma inconsciente) que a quebra do silêncio se faz necessário para que o afeto se construa e dores pulsantes sejam mais amenas. Espaços individuais são necessários para assimilar as muitas perdas, porém, juntos, podem criar novas relações e transformar um tanto dessa dor em esperança e porque não, amor pelo novo.
Relações humanas são complexas, eu sei. Um seriado de TV não dá conta de abarcar os tantos buracos que se formam na experiência individual de cada um. Que bom. Ficaria um tanto quanto frustrada se conseguissem me resumir em uns poucos episódios de um roteiro criado por alguém que estuda a sociedade para escrever tudo aquilo. Eu gosto dos incômodos que a arte tem a capacidade de gerar. Seja um livro, um filme, uma peça de teatro, uma série. Se ver naquilo que está posto e sentir, na sua vivência, identificação e enlaces que te levam a lugares maiores do que parece caber no peito. Acho isso belo, um dos grandes dons da nossa espécie. Se comunicar, das mais diversas formas.
Pode ser que eu fale por aqui um pouco mais dos universos fantásticos que vez ou outra me embrenho sem sentir que estou sendo julgada pelos meus gostos artísticos. Estar mais perto dos 40 do que dos 30 tem me dado uma audácia que resolvi aproveitar. Se quiserem não me deixar sozinha nesta jornada, cá estou, vou adorar saber o que acharam da série (e se detestaram mais ainda, curto opiniões contrárias). Deixem comentários por aqui ou se quer uma conversa mais privada, é só responder este e-mail.
Os Us da vida rendem muito papo e eu, que gosto pouco de papear, me deleito!
Com curiosidade e afeto,
Ana.
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Comecei Last of Us esse fim de semana e provavelmente terminarei no próximo. Eu tenho o jogo há anos e nunca passei "do segundo episódio" (engraçado agora mencionar dessa maneira). Estou amando a forma como os personagens e suas relações são construídas e como a importância sobre as coisas muda em determinadas situações. Tal como This is Us, que também termino até o fim da semana.
Recomendo a série See sobre uma sociedade cega. Tirando o capacitismo em si do início dessa tal sociedade, a série nos convida a refletir sobre relações humanas e formas de comunicação.
também sou muito fã dos us da vida, e fiquei muito apegada à história do joel e da ellie, da mesma forma que me apeguei aos pearsons! a magia das relações humanas <3