Amanhã,
Tem quem diga que inveja é inveja, nada de bom sai desse sentimento tão “mundano”. Porém, sou do time que gosta de analisar os sentimentos de forma mais ampla e ver que em tudo, até nas sensações mais sórdidas, existe um lado bom.
Recentemente me vi com muita inveja (e raiva) de uma pessoa próxima. Ela, que tem uma vida com menos obrigações que a minha (vulgo, mãe) passou a fazer coisas que quero muito, há tempos. Assistindo os resultados de sua vida mais feliz que a minha (esse era o olhar) senti nos ossos a inveja queimando e na cabeça, a raiva tomando conta.
Fui para a autoanálise. Que sentimentos nutro por esta pessoa e suas conquistas? É inveja mesmo? Ódio? Só raiva revestida de recalque? Foram semanas investigando até chegar ao veredito: Sim, estou com inveja, queria estar fazendo isto também, porém minha vida de adulta responsável por outro ser humano tem sido um fator, seja pela disponibilidade de tempo, física e emocional.
Concluir o que sentia e porque sentia foi como tirar um grande peso das costas. Entendi que era genuíno o sentimento e ok. Mas o que fazer com ele? Afinal, não existe nada pior do que sentir inveja de alguém e ficar ali, agarrada ao sentimento feito cachorro com seu osso favorito.
Sem parecer aqui uma versão Ana motivacional porque isso não faz muito meu tipo, decidi transformar esta inveja em algo bom. Para mim, claro. Verifiquei quais eram minhas possibilidades de mudança na rotina para também iniciar este mesmo processo e fui. Coloquei meu osso favorito e a minha inveja embaixo do braço e usei esta energia como movimento.
Raiva, inveja, ódio. São ótimos impulsionadores de vontade. Um empurrão daqueles em momentos em que só o “querer” não dá conta. Sentimentos estigmatizados, temidos e na maioria das vezes negados.
Desde crianças, somos ensinados que devemos ser todos alecrins dourados. Mesmo que ninguém seja. Fingimos bem. Somos ótimos na arte de negar o sentir e culpar o outro pelo o que sentimos.
Se for para sentir algo tão desagradável, que sirva para alguma coisa. Disse ela enquanto caminhava rumo ao seu deleite.
Correndo o risco de dizerem que esta carta não é lá essas coisas, já adianto: É inveja.
Com curiosidade e afeto,
Ana
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Penso que a inveja é um aviso meu para mim mesma, dizendo que também quero aquilo e esse desejo não vai sumir se eu ignorá-lo. Não aditanta fazer corpo mole, ele vai me lembrar da maneira mais dolorosa e quantas vezes for preciso... E você que fez algo em relação a esse sentimento, já deu muitos passos a frente, isso é acolhimento <3
Tudo energia que movimenta e transforma. Amei, Ana ❤️