Amanhã,
Minutos antes de uma tempestade, a natureza se cala, na escuta de sua chegada. Várias espécies são consideradas radar de que algo naquele ambiente está prestes a mudar drasticamente. Alteram seu comportamento, sendo possível presumir que alguma coisa está por acontecer. Em silêncio, escutam a transmutação se aproximar. Só depois, agem em busca de abrigo.
Ouso dizer que tamanha façanha também nos ocorre. Há um silêncio que precede as pequenas, as grandes, mudanças. Por vezes é doce, em outras, vem em forma de água, esquenta o peito, gela o estômago. De diversas maneiras, ele aponta que ali, naquele momento, é preciso pausar, sentir a transformação do ambiente e só depois, agir.
Na ânsia por dividir a angústia, a possível descoberta do novo, ou seja lá o que for, tentamos partilhar as sensações durante a tempestade ainda em curso. É difícil se fazer entender enquanto o céu se mantém obscuro. Para falar da tempestade com maior clareza, há de observá-la do começo ao fim.
Costumo partilhar algumas pequenas partes da minha rotina nas redes sociais. Registrar o nascer do sol diariamente é algo que faço já tem um tempo. Um dos momentos favoritos do meu dia, confesso. Porém, um certo incômodo se apossou de mim nas últimas semanas. Uma vontade impetuosa de apenas observar o nascer do sol, sem mostrar para ninguém.
Vivenciar o silêncio que antecede. Abrir espaço para as pequenas mudanças que chegam, aos poucos, numa velocidade diferente do que nos é vendido e cobrado. Adentrar o espaço-tempo no qual reside aquilo que ainda não se pode nomear.
Correndo o risco de ser incoerente, partilho esta singela observação enquanto ainda vivo na pele a tempestade em sua inteireza, apenas para lhe dizer que o mistério é o que rege o agora que se apresenta a mim, a você e a todos aqueles que veem na vida uma grande oportunidade de transformação.
Não faço ideia do que vem adiante. Mas eu te conto, quando a tempestade acabar.
Com curiosidade e afeto,
Ana
***
Um tiquinho da minha vida de leitora:
Estou lendo este livro e simplesmente amando.
Minha próxima leitura provavelmente será esta.
Estou de olho neste aqui.
***
Leia também;
Ana, que texto lindo e cheio de delicadeza! Esse silêncio que antecede a tempestade – tanto na natureza quanto em nós – é algo que muitas vezes tentamos preencher, mas seu texto me fez lembrar da importância de apenas sentir. E que bonita essa vontade de guardar certos momentos só para si, sem a necessidade de compartilhamento imediato. Às vezes, viver a transformação em silêncio é o maior presente que podemos nos dar. Obrigado por essa reflexão tão sensível!
Adorei essa edição e há algum tempo tenho sentido o mesmo, a vontade do apenas viver e não compartilhar. Vindo de uma pessoa que vivia cronicamente online, é quase que uma mini revolução… talvez seja mesmo a calmaria antes da tempestade? Ou vivi na tempestade muito tempo e agora só quero calmaria…