Amanhã,
Recentemente realizei um trabalho em parceria com outras duas mulheres e em um sábado ensolarado, fizemos uma maratona de apresentações. A carta que lhe escrevo não é para falar do trabalho (que foi lindo, aliás), mas sobre um movimento feminino tão fantástico que me levou a um estado de profundo agradecimento por ser eu, também uma mulher.
A missão era realizar três contações de história em três locais diferentes, carregando conosco as respectivas filhas e a necessidade de registrar todos os eventos para posterior prestação de contas. Duas histórias a serem contadas, cantadas e expandidas para um público infantil gentil, porém, exigente.
Já no primeiro evento uma amiga compareceu e cuidou de todo registro. As crianças brincando no parquinho ao lado e tudo correu bem. No segundo, as crianças já um tanto cansadas, exploravam o espaço enquanto o público, já bem maior, se organizava.
No momento em que abri o livro e pronunciei a primeira palavra, minha filha, lá no fundo do espaço, deu um grito de gelar a alma. Um gato que aparentemente gosta de ouvir histórias, não gostou dos carinhos e arranhou todo seu braço. Antes que pudesse me mover, uma mulher desconhecida abriu os braços e a pegou no colo. Uma das parceiras de trabalho que estaria livre naquela primeira parte, levantou num salto e foi também ajudar.
Assim, um tanto apreensiva, mas ainda focada, contei as histórias e tudo terminou bem. Mais uma vez, uma amiga compareceu e realizou todo o registro fotográfico necessário do evento.
Na terceira rodada, as crianças já cansadas e sem pique para colaboração tiveram a atenção devida de outras mulheres que ali estavam com suas crianças. Algumas conhecidas, outras não. E mais uma vez, registros necessários feitos por mais mulheres dispostas a ser ali, rede.
Ao chegar em casa, chorei. Um choro de profundo agradecimento por ser eu também, uma mulher. Por presenciar tamanha empatia, afeto e solidariedade em especial naquele dia, mas algo presente em tantos outros.
E não estou aqui para dizer que essas são características exclusivas do universo feminino nem nada do tipo. Teríamos que adentrar territórios profundos de socialização, cultura, sistema financeiro etc para debater por este ângulo. Hoje, quero apenas falar sobre mulheres ajudando outras mulheres. Enaltecer as mulheres da minha vida, sejam elas conhecidas ou não.
Meu trabalho tem se alinhado cada vez mais com o público feminino. Faço parcerias muitas com mulheres que leem, escrevem, se movimentam no corpo e na alma e todas elas, ao seu modo, me mostram que há neste campo, uma força motriz capaz de transformar universos internos e também coletivos.
Não tive a oportunidade de agradecer pessoalmente aquela mulher desconhecida que abriu os braços para minha filha e a acolheu, como se sua filha fosse. Portanto, deixo aqui meu mais sincero agradecimento, não apenas a ela e as demais mulheres que tanto me ajudaram neste dia, mas a todas as mulheres que tornam o dia de outras mulheres, muito melhor.
Mulheres, ajuntemo-nos!
Com curiosidade e afeto,
Ana
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Não tem como falar de mulheres sem falar do Nós-Laboratório de escrita. Uma experiência que por si só tomou o rumo de ter integrantes mulheres em sua totalidade e assim entendi que deveria ser.
Estamos no terceiro mês deste profundo Laboratório que explora muitas camadas da escrita. Em abril o mergulho tem sido no realismo mágico e na reflexão do quão nos permitimos criar para além das caixas impostas pela sociedade.
Em maio vamos adentrar nas Memórias -Do registro a criação. Um aprofundamento da escrita de memórias nas suas mais amplas possibilidades. Temos um grupo já fixo de mulheres que fazem parte do Nós, mas é possível participar de forma avulsa, basta me escrever para saber dos detalhes.
Leia também;
Mulheres que correm com as palavras #164
Antes de mais nada, quero dizer que estamos chegando aos 900 inscritos e estou feliz demais em ver as Cartas indo cada vez mais longe. Quero agradecer todas e todos que tiram um tempinho para ler minhas palavras e mais ainda, aos que comentam, curtem e compartilham o que aqui planto. Obrigada!
Ana, que edição bonita!
Obrigada pela parceria, minha amiga!
Realmente, Ana, essa conexão entre as mulheres é para ser celebrada!
Agradeço por poder partilhar a vida com você e sua sensibilidade!