Antes de mais nada, quero dizer que estamos chegando aos 900 inscritos e estou feliz demais em ver as Cartas indo cada vez mais longe. Quero agradecer todas e todos que tiram um tempinho para ler minhas palavras e mais ainda, aos que comentam, curtem e compartilham o que aqui planto. Obrigada!
Amanhã,
Adentrar o cerne de uma palavra e devorá-la, como quem se alimenta de algo que vai além do convencional. Me sinto assim quando escrevo, sou fisgada por frases que tomam as horas. Talvez por isso a poesia me envolva tanto. Para a poeta, a conexão com a palavra deve ser ainda mais íntima e verdadeira. Come-se cada sílaba, bem devagar.
Busco na memória o início, quando foi que me tornei assim, tão íntima a ponto de me sentar à mesa. Recordo que aos dez anos, chorei lendo Fernando Pessoa e Cecília Meireles. Aos oito, fiquei fissurada em Lígia Bojunga e sua Bolsa Amarela. Desde cedo, normalizei a palavra como elemento central da minha existência. Eu só não sabia disto.
A grande virada no jogo tem sido encontrar outras mulheres que, assim como eu, querem um lugar nesta mesa repleta de palavras, prontas para o regozijo. Perder a vergonha, abraçar a jornada com braços, dedos e unhas. Abrir espaço para não estar só na estrada.
Em meio a tanta individualidade vendida como sucesso, encontro as linhas que se misturam na minha costura. São elas, que me mostram novas formas de bordar a vida.
Quem tem ou já teve amigas, grupos de mulheres etc em que as trocas são genuínas, sinceras e vulneráveis, sabe que aí habita um poder difícil de explicar. Apenas sente-se, no corpo e na alma. Tecelãs das palavras que se dispõem a contribuir com os processos de escrita alheio, estão, na verdade, desenhando novas formas de existir.
E quando traçamos novas rotas, de forma coletiva, dizemos para o universo que aquilo ali é propagável e a energia se multiplica. Assim, mais e mais mulheres se juntam, se ouvem, se leem. E o impossível, vai abrindo espaço para os sonhos que desabrocham com a nova alvorada.
Maravilhar-me com as palavras. Não me envergonhar disto. Partilhar o sentir que pulsa a partir do encontro, da entrega. Acolher o que chega. Expurgar o que precisa sair.
Não me pergunte as motivações pelas quais esta carta nasceu. Eu também não sei. Um tanto de agradecimento, um recado. Os dois.
À todas as mulheres que correm com as palavras, saúdo seus olhos e seu coração. Àquelas que se colocam ao meu lado nesta corrida, minha profunda admiração. Não estamos só. Nunca estaremos. Flu(ir) é verbo. Mas também é estrada. Que seja larga e surpreendente.
Com curiosidade e afeto,
Ana
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Onde andam meus olhos e meu coração;
Recado importante de Mary Oliver.
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Começa neste sábado o NÓS - Laboratório de Escrita.
Já temos grupo com boas vindas para as mulheres que se juntaram nesta jornada de escrita, escuta e criação do novo. Estamos na primeira lua nova do ano e a energia de transformação pulsa como nunca. Iniciar novos ciclos saindo do conforto do nosso lar interno, abrir as portas. Um jeito maravilhoso de saudar as tantas possibilidades. Tudo isso, em meio as palavras.
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Uma honra poder correr ao seu lado, querida amiga! ❣️
Ana, que carta especial!
Obrigada por estar viva neste tempo, neste exato momento!
Obrigada por mencionar Alguma Poesia!
Beijo