Não vou mentir #165

Silenciar é meu desafio do século.

Paul Isenfels - Dancer at the Ida Herion dance school in Stuttgart, Heliograving, 1927.

Amanhã,

Na terça, uma dorzinha chata nas costas. Quarta, quinta, continuava ali incomodando. Sexta, uma piora gigantesca, mal conseguia andar. Nesta mesma noite, dentre muitos sonhos, uma conhecida (que sei lá por qual razão tem aparecido aleatoriamente em meus sonhos) me dizia “você precisa descansar, do contrário, vai adoecer”.

Acordei com sua mensagem ressoando em minha cabeça. Não conseguia me mover sem sentir uma dor absurda. Chorei. Me culpei de todas as formas possíveis. A academia que ainda não retornei, a caminhada que não anda rolando, os alongamentos curtos demais. Abracei a minha lista de culpas, minha dor e fiquei ali, remoendo o fato do meu corpo estar me exigindo aquilo que lhe é de direito.

Semana que vem é meu aniversário. Aceitei que tenho agora oficialmente dois dias para celebrar (contei essa história neste texto aqui). Teria eu dois infernos astrais então? Impossível não é. Trinta e nove anos para entender que fazer aniversário é passagem. Um portal, no qual recebemos dádivas que só o tempo é capaz de dar, cobranças de ações que deveriam estar acontecendo, mas, por alguma razão ainda não foram colocadas em prática.

Um momento de pausa, entrar no casulo e observar o todo com mais atenção para ouvir o que o espirito tem a nos dizer. Meu corpo, sabido que é, me colocou neste lugar. Silencia. Ouve.

Não vou mentir, silenciar é meu desafio do século. A ansiedade que me habita saúda a ansiedade que habita o meu entorno praticamente todos os dias com uma intimidade assustadora. Mas eu acho que a vida é mesmo esse tal de erros e acertos, aprendizados e burradas repetidas, subidas memoráveis e quedas previsíveis.

Minhas costas já estão quase recuperadas e meus ouvidos, ao menos por agora, mais atentos aos recados que precedem o fim e anunciam o (re)começo. Vai sua boba, do jeito que é possível agora. Faz aquilo que acredita, silencia essa travadora de coluna sem vergonha e segue seu caminho pra lá de imperfeito.

Pode ser devagar, com as mãos dando suporte para a lombar, praguejando um tanto, acompanhada. Mas vai. Só vai.

Com curiosidade e afeto,

Ana

PS1: Aula de alongamento, aqui vou eu!

PS2: Não economizem os dedinhos e me felicitem as 39 primaveras sem dó faça o favor. Meu sol é em aquário, mas meu ascendente é em câncer, sou sensível e choro com mensagem bonita, não me julgue. Pode ser dia 11, 12 e até depois por que não. Só manda!

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Divagações;

Nestes dias um tanto de molho (um tanto tentando trabalhar deitada), assisti o filme Janet Planet e sua atmosfera de pausa e reflexão mexeu comigo. Durante muitos momentos fiquei tentada a pegar o celular ao invés de me envolver com aquele ambiente no qual nada de extraordinário acontece ao passo que muitas coisas nestas entrelinhas estão acontecendo.

Me dei conta de hoje em dia raramente assisto filmes sem pegar no celular neste período e isso não só me causou grande irritação como também preocupação.

Lombar travada, ansiedade e celular, um combo e tanto desta vida contemporânea da qual estou criando grandes planos de fuga. Só vai disse ela, só vai….

Assistam Janet, de preferência, sem mexer no celular.

Leituras;

As leituras tem seguido um ritmo novo. Escolho a dedo os livros que vou ler, quero me lembrar das histórias e encontrar espaço para elas aqui dentro e isso tem se mostrado estar na direção oposta do “li x livros até agora”. Claro que número de livros lidos é extremamente relativo já que as 24hs do dia se dividem de forma bastante diversa para cada pessoa, a depender da sua classe social e oportunidades. Meu tempo para leitura está bem longe de ser o que gostaria, mas ele existe e por isso já o celebro.

Estou lendo A arte de driblar destinos do Celso Costa, obra vencedora do Prêmio Leya 2023. Tive a alegria de estudar literatura na mesma turma que o Celso na época em que ele ganhou este renomado prêmio e mais feliz ainda em saber que ele também cresceu no interior e na zona rural, em uma região bem próxima da minha.

Ler um livro que cita cidades que conheço e já muito frequentei tem criado um quentinho no meu coração. A literatura brasileira é linda demais e ver histórias que falam do campo sendo premiadas alimenta a minha alma interiorana e suja de barro.

Um livro e tanto!

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