Amanhã,
Não sou a pessoa que costuma fazer retrospectiva do ano. Não crio metas (ao menos nada muito estruturado). Tenho alguns sonhos. Corro atrás daqueles que são minimamente possíveis. E só. Não consigo olhar para dezembro como se fosse um marco, uma linha de chegada que indica: Sucesso ou fracasso.
Anos, meses, dias. Tudo isso foi criado por nós, humanos, como uma forma de estruturar a vida. Sentir que tudo tem começo, meio e fim. E tem, claro, sua utilidade. Mas não deixa de ser uma invenção nossa. Uma espécie de vitrine do viver. O tempo não pausa. Não aperta o botão de nova fase. A sensação de encerramento de ciclo está logo aí, na nossa frente. Ao passo que a existência segue, retilínea, passando para uma “nova fase” só nas mais sinceras intenções.
Talvez não sinta tanta necessidade de encerrar ciclos, penso com meus botões. Ou seria medo? Se tivesse que fazer o tal balanço, gostaria do resultado? Divago sobre tudo isso enquanto abro uma nova aba no Excel com o título “Projetos 2024”. Minha vida mudou tanto este ano que sinto necessidade de criar falsas sensações de controle e segurança.
Planejar me faz acreditar que estou sabendo o que vai acontecer. Na planilha e na cabeça está tudo organizadinho, universo que não venha com suas conspirações. Mas não foram exatamente as grandes mudanças não esperadas que tornaram meu ano tão transformador? Tantas coisas não planejadas. Nem sequer sonhadas. Que chato seria se minha vida cumprisse meu script, por vezes sou uma roteirista sem graça demais.
Que fique claro amanhã, esta não é uma carta contra o planejamento. É sobre o que acontece, enquanto não estamos planejando. É sobre o viver, nu e cru, do jeito que é. Sonhado ou não.
É sobre acreditar. No que a gente é capaz de fazer. No que não se faz sozinha. No que pode ser delegado sem qualquer prejuízo. É sobre amar. As imperfeições dos dias comuns. Os detalhes dos dias de glória que ninguém reparou.
É sobre o entre.
O que acontece entre o que planeja e o que realmente se apresenta. E como se lida com isso.
É sobre o que quero para meu futuro, medido por um calendário ou não.
O quão sou capaz de me entregar ao acaso.
O tamanho que me vejo. E me permito ser.
Reabro o Excel. Crio uma nova aba.
O título: Universo, essa parte é com você.
Com curiosidade e afeto,
Ana
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Última semana para se inscrever na Oficina Cartas que nunca escrevi. Apoiadores possuem 50% de desconto.
Venha escrever aquela carta que nunca escreveu comigo, nesta última oficina do ano!
O que dizem sobre esta oficina:
Ai Ana! Que texto mais lindo!
Sabe, sou fã de revisão do ano... haha Mas precisei descobrir à força de que essa aba aí, do Universo, precisa ter mesmo seu lugar.
Obrigada pelo texto certo na hora certa.
Um beijo carinhoso
"É sobre amar. As imperfeições dos dias comuns" Adorei, Ana. Tenho praticado diariamente e sinto que tem sido o pulo do gato. 💜