8 Comentários

Ana! Li a resposta que você me mandou e corri para te ler. Nossa, perfeito. Dá um nervoso ver essas rotinas perfeitas, quase estéreis. E agora fiquei curiosa em saber quem é o escritor que falou da mudança da rotina com a chegada do filho ;)

Expand full comment
Jul 22, 2022·editado Jul 22, 2022Gostado por Ana Margonato

Ana,

Eu fico pensando o quanto os caminhos são mais plurais do que a gente pensa.

Eu não sou ninguém na fila do pão, eu sei. Apesar de valorizar muito rotinas eu nunca me identifiquei com nenhuma dessas estruturas dos grandes escritores pra estampar em folha de jornal. Eu quase nunca escrevo de manhã. Também não escrevo todo dia. Eu gosto do silêncio, não ouço nem música se não é o momento de ouvir música, mas a própria natureza é bastante barulhenta. Eu sei que são situações diferentes - eu não sou mãe e talvez pareça tudo mais escolha aqui desse lado - mas de fato, eu não acho que seja qualquer dessas coisas que faça a gente mais ou menos escritora.

As vezes eu escrevo no meio da tarde, como estou fazendo agora. As vezes é de manhã, mas com certeza vai ser depois do café, de cuidar dos gatos, e da yoga. Tem dia que me vem uma frase, ou uma ideia que eu acho que a partir daí rende um ensaio, e eu anoto no bloco de notas do celular (assim mesmo, sem método nem aplicativo, porque é o que funciona pra mim). Tem dia que eu esqueço de anotar também. Mas eu tô sempre prestando atenção nas ideias, dando um jeito que elas se prolonguem em notas e conversas, e isso sempre foi suficiente pra que eu continuasse escrevendo, publicando e vivendo disso.

Muitas vezes eu sinto que tenho mesmo outras prioridades. Eu quero comer bem, ter uma vida agradável, estar disponível pros outros muito mais do que escrever qualquer coisa. Tenho pra mim que a arte sem estar incorporada à vida eu não sei se vale grande coisa. Talvez por isso mesmo eu jamais serei uma grande escritora que vai estampar sua rotina estranha no jornal, mas também não gostaria disso. Eu gosto das miudezas, de ter tempo, de fazer porque quero, e saber que justamente porque o meu querer é tão respeitoso comigo mesma que ele sempre encontra a porta aberta pra voltar. É assim que ele sempre está aqui, e isso me basta.

Um beijo grande <3

Expand full comment

Que linda metáfora!!! Tem gente que pega rodovia, mas nós escolhemos a estrada de terra.

Cansativa, empoeirada e esplendorosa.

Expand full comment

Ana, nem preciso dizer que, mais uma vez, me identifico, né? E me lembrou o livro "Contra os filhos", da Lina Meruane. Eu li quando estava grávida, não gostei de alguns caminhos de argumentos da autora, mas, no geral, hoje sendo mãe entendo muitos dos pontos que ela colocou ali sobre a quase impossibilidade de ser artista/escritora e mãe.

Expand full comment